É verdade que café com leite diminui o raciocínio?

Força Fígado

Força Fígado
Distribui energia, atende emergências, cuida do lixo, se regenera, faz mil coisas ao mesmo tempo e não reclama do serviço.

Saúde, em seguida a esse voto, o organismo é brindado com goles de um rico combustível misturado a um requintado veneno. Seja uma esportiva cerveja ou um doméstico licor da vovó, toda bebida alcoólica tem essas qualidades paradoxais. O bem só se separa do mal quando o álcool, junto com nutrientes absorvidos durante a digestão, escorrega no sangue, sendo sugado por uma esponja vermelha e escura, no lado direito do abdome. É ali, no fígado, a maior glândula do organismo com seus 8 a 10 centímetros de largura, que parte da bebida é queimada e transformada em energia, enquanto as sobras tóxicas são trituradas e eliminadas feito lixo. E isso é apenas o começo da conversa quando o assunto é fígado, um personagem muito comentado nas bocas que apreciam um trago, embora poucos saibam ao certo qual é seu papel na história.
É com certeza, um papel de primeira grandeza. Literalmente insubstituível, o fígado está no centro do espetáculo de uma série de processos, tanto que sem o órgão, retirado em uma cirurgia ou danificado por doença, não se sobrevive em média por cinco horas, para a agonia de cirurgiões que fazem transplantes, uma atividade de ponta na Medicina Moderna. Toda esta importância costuma ser ignorada e as pessoas, muitas vezes, cometem a ingratidão de retribuir a trabalho do órgão com críticas por eventos pelos quais nem sequer é responsável, como dor nas partes superior do abdome ou ressaca. Os próprios cientistas, embora não pervertem tais disparadas, admitem com candura que ainda têm muito a aprender a respeito dessa nobre víscera.
Já a fama e a glória vão habitualmente para os coadjuvantes: os rins, por exemplo, são consagrados por limparem o sangue, excretando uma substância chamada de uréia que leva embora uma série de moléculas nocivas. A uréia, na realidade, é fabricada pelo fígado, que também produz diariamente 100 gramas de proteínas, 90% do que o ser humano necessita para sobreviver. O fígado, ainda destrói os micróbios que eventualmente driblaram as células de defesa no intestino, possibilitando a absorção de certas substâncias; armazena substâncias; elimina glóbulos vermelhos envelhecidos; e –ufa, manda energia para todo o corpo. No feto, estoca nutrientes para o começo da vida.
Com aproximadamente 2 quilos que se acomodariam na palme de uma das mãos, sem forma muita definida, pois e deixa achatar ao mero contato com os vizinhos, como o rim direito, estômago, o fígado pode ser comparado a uma alfândega. Suas células, especialmente as que recobrem os vasos, agem efetivamente com fiscais aduaneiros: revistam a bagagem do sangue, para separar o que merece e o que não merece ter livre trânsito no organismo. Mas, mesmo que o álcool tenha recebido visto de entrada no organismo, nem sempre suas partículas devem se transformar em energia, algo que, às vezes, o organismo tem de sobra.
Neste caso, o fígado aproveita as partículas de álcool para construir redondas moléculas gordurosas, como uma espécie de previsão para eventuais períodos de jejum. Essa reserva para tempos de vacas magras fica estocada em depósitos situados, por exemplo, na altura da cintura, fenômeno que alguns freqüentadores de bar eventualmente observam no espelho. O processo pode durar até mais de 24 horas, pois, o álcool é metabolizado um pouco de cada vez, à medida que o sangue que o sangue atravessa o fígado, à velocidade de cerca de 2 litros por minuto. È bem verdade que um pouco de álcool que ficou para a próxima rodada, circulando pelo corpo até alcançar novamente a glândula, acaba sendo queimado em outras regiões.
Ainda quando isso ocorre, porém, o fígado não fica fora da operação. Afinal, é quem envia às células o combustível especial do foguete bioquímico. A entrega é feita ao gosto do consumidor, do modo que as células do organismo aceitam, ou seja, sob a forma de glicose, um açúcar solúvel em forma de água, que o fígado fabrica a partir de ingredientes diversos, como os carboidratos do macarrão, os glucídios do chocolate, a lactose do leite. No entanto, se esse trabalho se complica, ou porque a quantidade de bebida é grande ou porque o bebedor está se alimentando pouco, o fígado tenta contornar o problema, orientado pelos hormônios da glândula pancreática que regular os níveis de açúcar no sangue.
Assim, as insolúveis moléculas de glicogênio guardadas nas suas células são convertidas em glicose, como se os hormônios pancreáticos retirassem um alimento da geladeira para o consumo imediato. De fato, as células que formam o fígado armazenam uma série de substâncias para os casos de necessidades. Esse hábito preventivo se manifesta ainda no feto, quando a glândula começa a estocar, aproximadamente após o terceiro mês de gestação, algumas substâncias de que poderá precisar nos primeiros dias de vida, por não estarem presentes, ao menos em quantidade suficiente, no leite materno.
Eventualmente usado para metabolizar doses extras de bebida, o estoque de açúcar no fígado não duro muito, assegurando combustível apenas por um dia. O fígado, porém, ao pode deixar faltar energia ali onde é essencial, no coração e no cérebro, peças vitais na maquina humana.Por isso, para manter o organismo vivo, a vícera faz qualquer negócio: o recurso mais rápido é roubar proteínas dos músculos, desmontando suas moléculas, cujos componentes, carbono, oxigênio e hidrogênio, serão recombinados de acordo com a fórmula da glicose (C6H12O6).
Esse processo de auto-canibalismo ocorre também, quando se faz um regime drástico, sendo uma das causas de fraqueza que o acompanha.Outro recurso utilizado pelo fígado, quando o alarme dos hormônios pancreáticos denuncia a carência de glicose, é mobilizar gordura para fazer com suas moléculas algo semelhante ao que fez com as proteínas musculares. O mecanismo, aliás, é intuitivamente conhecido pelos cozinheiros desde a Idade Média, quando aparece na França o hábito de servir álcool aos gansos a fim de que seu fígado, amaciado pela gordura mobilizada, fique no ponto ideal para a elaboração do patê de foie grãs (fígado gordo).
Uma receita ainda mais antiga mandava o caminho inverso: encher a ave de comida e, de preferência, imobiliza-la para que a sobrecarga de energia crie depósitos gordurosos nas células hepáticos.Essa filtração de gordura facilita o aparecimento de diversas doenças. A ponte entre a Biologia e a gastronomia é sólida e duradoura: afinal a palavra fígado deriva do Latim ficatum, derivado por sua vez do grego fykotón, nutrido com figos, numa alusão às aves a que se dava esse fruto, para conferir um sabor especial ás pastas feitas com seu fígado.
Os romanos podiam entender de boa mesa, mas não eram propriamente doutores em fisiologia do aparelho digestivo. E o fígado permaneceu quase um ilustre desconhecido ao longo dos séculos. Apenas nos anos 60, por exemplo, descobriu-se que os milimétricos cilindros, os lóbulos, formados pelas células do fígado em torno dos vasos sanguíneos são as unidades independentes, ou seja; em caso de doença podem ser extraídos cirurgicamente, sem prejuízos dos lóbulos vizinhos.Até então, o desconhecimento dessa realidade representava um pesadelo para os médicos: freqüentemente os cortes provocavam hemorragias fatais aos pacientes.
Continuam nebulosos, porém, as razões pelas quais na história da vida na Terra o fígado surge apenas nos vertebrados, há cerca de 400 milhões de anos; a vícera é parecida em todos os espécimes, a do porco, porém, é mais semelhante ao fígado humano. Antes dos vertebrados, os seres vivos tinham grupos de células diferentes para realizar cada uma das funções que o fígado veio a monopolizar: o processo parece subverter a direção habitual da evolução dos organismos, cuja pedra de toque é a especialização das funções. Dizer que a hexagonal célula hepática tem mil e uma utilidades não é mera força de expressão: cientistas consideram que certas tarefas por ela realizadas, como síntese de proteínas, são essenciais para outras atividades orgânicas, como a formação de tecidos.
Desdobrando esse raciocínio, a soma das funções alcança, com tranqüilidade, a casa do milhar.Muitos cientistas passam a vida estudando só uma função do fígado. Apesar de toda a versatilidade do órgão, falta-lhe um mecanismo capaz de organizar as prioridades em sua disputada agenda. Ao passarem pelo fígado, é como a se todas as substâncias, de toxinas a nutrientes, desejassem ocupar suas células por uns instantes.
Como na velha dança-das-cadeiras, onde quem não senta cai fora do jogo, às partículas que não encontram lugar disponível no fígado são expulsas na corrente do sangue, por uma veia larga, a centrolobular, que vai a direção, ao coração.As partículas rejeitadas fazem então uma longa volta por todo o organismo, até uma nova oportunidade, quando tornam ao fígado ou junto ao sangue oxigenado, que o irriga ou com o sangue carregado de substâncias do intestino, baço e do pâncreas. Nessa competição metabólica não basta chegar primeiro: a quantidade também conta. Quanto maior o número de moléculas de uma dada substância, maior a probabilidade de encontrarem pouso nas células hepáticas.
Dessa maneira, se a maioria das suas 50 bilhões de células, algo como 5 centésimo do total existente no corpo humano, está queimando moléculas de álcool em certo momento, o fígado pouco pode fazer se bater à sua porta, de repente, uma droga de efeito muito tóxicos. Isso explica por que algumas pessoas, sob efeito de bebidas alcoólicas, sofrem intoxicações às vezes fatais, até por medicamentos aos quais já estavam acostumados.
Contudo, é comum atribuir-se a essas sobrecargas uma série de sintomas que nada tem a ver com o fígado. Não é raro, por exemplo, ouvir alguém reclamando, por exemplo, ouvir alguém reclamando de dor de fígado, após uma refeição pesada. Não se pode negar a dor alheia, mas uma coisa é certa: é muito mais provável que a origem do mal-estar esteja em outro órgão do aparelho digestório.
O fígado pode até ter muito trabalho para quebrar as gorduras ingeridas, mas nunca reclama do serviço, ou seja, se reclama, reclama em silencio, pois nem sequer possui nervos para mandar ao cérebro a mensagem que produz a sensação dolorosa. É bem verdade que o fígado é recoberto por uma membrana, esta, sim, cheia de nervos. Contudo, só há dor em duas situações específicas: nas doenças graves em estágio avançado, nas quais, o fígado pode crescer até cinco vezes, ou nas infecções agudas em que uma hora para outra a glândula incha. Já nos casos de doenças que desenvolvem lentamente, como muitas hepatites crônicas, os nervos da dor se estendem aos poucos e não produzem sensação alguma.
Outra crendice é associar estados de embriaguez ou de ressaca ao fígado, quando na realidade os sintomas se devem aos efeitos do álcool sobre o cérebro e o restante do aparelho digestivo. Os tão procurados medicamentos à base de alcachofra fazem bem, não porque atuem sobre o fígado, como se imagina, mas porque facilita a digestão.É fato que tanto a bebida alcoólica como qualquer medicamento, maior ou menor grua, ao entrarem nas células hepáticas irritam a sua delicadíssima membrana. Se a agressão for crônica, as células irão degenerar, transformando-se num inútil tecido conjuntivo, semelhante a uma cicatriz: é a cirrose, um problema sem volta. Como diminui sua área de operação, o fígado acaba realizando, num ritmo mais lento, as suas atividades metabólicas.
O fígado normal produz, diariamente, cerca de 700 mililitros de bílis, um líquido de gosto amargo, esverdeada, cujas funções mais importantes são esmiuçar gorduras e eliminar parte da escória do metabolismo. A principal matéria prima para fabricar a bílis são as moléculas de colesterol que o fígado produz ou colhe no sangue a partir das gorduras ingeridas. Só para lembrar, a taxa normal de colesterol no sangue é de 70 à 110 mg/100 ml de sangue. Mas a sua típica cor ferruginosa é dada por uma proteína, a bilirrubina, que surge quando o próprio fígado, junto com o baço e a medula óssea, quebra os glóbulos vermelhos já envelhecidos. Alias, um sinal seguro de que algo está errado com o fígado é quando o organismo não consegue eliminar direito a bilirrubina.
Então, ela se acumula nos tecidos, deixando a pele e os olhos amarelados, sintomas que os médicos chamam de icterícia. Com exceção do açúcar, liberando de acordo com as necessidades orgânicas, o restante da produção do fígado não é feita sob encomenda. Assim, as células hepáticas vivem a seu gosto diversas proteínas, ao combinar os aminoácidos absorvidos na digestão. No entanto, ao há desperdício nesse jogo de armar, pois se alguma proteína voltar intacta ao fígado, após ter circulado pelo corpo em busca de quem a quisesse, as células hepáticas a desmontam e aproveitam o seu material outra vez.
Entre as proteínas mais importantes sintetizadas pelo fígado estão os fatores de coagulação do sangue, que são feitos com o auxílio da vitamina K. Isso significa que o mau funcionamento do fígado pode ser a razão do fato de um corte no dedo demorar a cicatrizar. É por isso que problemas hepáticos podem causar hemorragias. Além de tudo isto, também segundo estudos, na antiguidade, relacionava o fígado ao bom humor. Outra característica marcante do fígado é o seu poder de regeneração (prometeu).
Apesar de tantos avanços, a ciência ainda não encontrou medicamentos capazes de proteger as células hepáticas. Pelo menos é o que diz a medicina convencional, alopatia. Todos concordam que a melhor maneira de dar força ao fígado é trata-lo bem, evitando excesso de alimentos, doses extras de bebidas e a mania de tomar remédios por qualquer bobagem.

Fonte: Revista Super Interessante

O conceito de Morte

O que é a Morte? Qual é conceito de Morte

Por vezes as coisas mais simples e óbvias, são as mais difíceis de conceituar e definir. Tal é o que acontece com a morte. Tão difícil é defini-la, como conceituar a sua antítese, a própria vida. A maior das definições que têm sido feitas com relação á morte podem ser chamadas de definições negativas, porquanto se expressam pela via da exclusão. Por outras palavras, dizem que ocorre morte toda vez que não ocorrem certas e determinados fenômenos ditos vitais. Deste ponto de vista estritamente jurídico até que conceituar a morte não é tão difícil: é a extinção do sujeito de direito, ou seja; é o termo legal da existência civil da pessoa.
Tampouco o é deste o ângulo médico: morte é a cessação da vida. Há de se ter presente, contudo, que isto, mais que uma definição é um simples prognóstico de irreversibilidade de um processo vital: a vida não mais há de retornar a este plano. E assim pode-se, licitamente, questionar em que consiste essa vida que não mais há de retornar? E, por conseguinte, qual é o instante em que o caminho se torna unidireccional e sem retorno, podendo-se falar em morte?
Preliminarmente, mister esclarecer, ainda que despiciendo de necessidade, que pelo próprio contexto da matéria que estamos analisando, nos referimos à vida no caso do homem, isto é, do ser humano. Não é que esta seja diferentes dos demais sistemas viventes na sua essência; todavia, ela oferece um negável “plus, ensarte” de sofisticação intelectiva que lhe permita relacionar-se com os demais seres congêneres. È de maneira que, como qualquer sistema vivente, o ser humano exibe intensa negantropia, isto é, é a capacidade de estabelecer a sua ordem ou, por outras palavras, lutar contra a tendência natural do universo a aumentar a entropia, às expensas do constante suprimento de energia. Isto e o que lhe permite ser mais organizada e, ao mesmo tempo, é isto, também, o que na medida em que a sua complexidade, a torna mais instável.
É crucial que, como parte dessa instabilidade, na ausência do suprimento energético necessário, o caminho inverso é inexoravelmente percorrido, levando ao progressivo aumento de entropia, isto é; a disgregação e à desorganização total. Um organismo vivente libera a energia necessária à manutenção do seu nível de organização através do rompimento sucessivo das ligações químicas dos nutrientes que capta do meio, ao longo do processo de respiração que aproveita e exige o oxigênio como aceptor final da cadeia metabólica. Segue daí que a integridade das funções de captação e intercâmbio de oxigênio-atribuição do Sistema respiratório devem ser considerar um dos fenômenos vitais, isto é, capazes de caracterizar a vida e, “mutatis mutandi”, sua ausência como um dos elementos a conceituar a morte.
Paralelamente, em face do tamanho e do grau de desenvolvimento adquirido pelo ser humano, o oxigênio resultante da captação e intercâmbio que é feito apenas numa área restrita, os pulmões, carece ser distribuído pelo corpo todo. Tal distribuição é cometida ao Sistema Circulatório. De tal sorte a higidez e integridade funcional do sistema circulatório se poderá considerar outro dos fenômenos vitais cuja ausência, certamente servirá também para complementar o conceito de morte. Por derradeiro, devemos considerar que ambas estruturas morfofuncionais citadas, Sistema Respiratório e Sistema Circulatório, existem em função de atender ás necessidades de um complexo conjunto de células cuja atividade coordena todo o organismo e, ainda, possibilita toda a sua vida de relação. Referimo-nos ao Sistema Nervoso ou Sistema Neural. Assim sendo, s resulta que a própria atividade do Sistema Neural se constitui em um fenômeno vital princeps, porquanto as outras duas previamente elencadas-Respiratório e Circulatório, acabam sendo subservientes a esta (neural).
Conquanto já anunciamos que a maior grau de complexidade se segue, um maior grau de instabilidade, não resulta difícil compreender que as células do Sistema Nervoso, os neurônios, hão de ser, por força do seu próprio papel e grau de sofisticação, os mais susceptíveis as variações nos teores de oxigênio necessários a manutenção de sua elevada organização sináptica. È por isto que baixas concentrações de dióxido de oxigênio ou ausência do mesmo, acarretam prejuízos irreversíveis na sua organização, caracterizados como morte celular (morte neural).
Para complementar o raciocínio, basta lembra que os técnicos muito têm conseguido no que tange a suprir alguns fenômenos vitais pela ação de aparelhos que respiram pelo indivíduo, facilitando a hematose e que fazem o sangue circular mecanicamente. Todavia, inexiste qualquer engenho eletromecânico capaz de pensar, agir e ter emoções, que seja aplicável ao organismo humano, para supri-lhe a falta dos neurônios mortos...
É por isso, que com a destruição do nível de complexidade mais elevado, os neurônios ou a sua somatória, o Sistema Neural, acabamos, por verificar uma verdadeira desintegração da personalidade, aumento da entropia do sistema, que se transuntará na sua Morte.
Ela era a única certeza que tínhamos na vida. Agora, o avanço da ciência médico está criando dúvidas que nunca tivemos antes e revolucionando o jeito como encaramos a morte. A final de contas, quando a vida termina? Quando exatamente morremos? Como já dizia o então Papa PIO 12 “A morte não é território da igreja. Cabe aos médicos defini-la’’. Ah, quem sabe o filme “Cidades dos Anjos” com Megue e Nicolas faça entender por que a vida e a morte, estão causando tanta polêmica.


Fonte: Ética Prática de Peter Singer.
www.bioetica.ufrgs.br

Carta de Amor de um Biólogo

CARTA DE AMOR DE UM BIÓLOGO

Você tem uma nomenclatura muito linda, mas saiba que eu te amaria mesmo que você se chamasse Ergastoplasma... Sabe que quando eu te vejo, minhas mitocôndrias entram em fermentação, a meiose se acelera e meus gametas ficam todos assanhados? É verdade porque você tem um fenótipo tão lindo que tenho uma tese de que o seu código genético foi seqüenciado por um artista muito inspirado, em plena geração espontânea.
Quando você surge, em movimentos amebóides, bela, túrgida e charmosa, começo a sentir os efeitos de reações físico-químicas em meu organismo. Seu tropismo em relação a mim afeta o córtex do meu sistema sensorial! Ao tocar sua celulósica mão, nossos glicocálix se encontram. E se seus olhos, perdidos, semelhantes a ocelos de planária, não se cansam de me fixar, é porque minha antena está ligada em você. Sua cetácea presença mexe com minhas enzimas, hormônios, meus neurotransmissores, até minha cadeia respiratória já não funciona direito, nem mesmo para a coordenação meu trêmulo tríceps. De meu frontal escorre o que restou de secreção sudorípara.

Seus ferormônios realmente me tiram de homeostase. Seus cílios e pilos me causam flagelos impensáveis. Palpitações sistólicas arrebentam meu pericárdio.
Ah, querida, e quando quero repor as perdas metabólicas e te levo a uma confeitaria para posicionar nossos níveis tróficos, a única gelatina que nos interessa é aquela biomassa saborosa que chamamos de meio de cultura!
Mas apesar de nossa relação harmônica em franca evolução, ultimamente você está num estado de isolamento do que foi nossa protoplasmática simbiose. Sabe, se você continuar me tratando com tanto acaso, vou me sentir menos que um inseto, um verme! Você dá mais atenção às suas amigas, aquela tal de Drosóphila, à Taenia, a quem, por sinal, nunca fui apresentado, do que a mim... E quem é esse tal de Rhesus, hein? Ah meu Deus! Será que estou com complexo de Golgi? Devo estar entrando naquele ciclo maldito - o ciclo de Krebs... e se esse processo seletivo continuar sou capaz de cometer uma loucura, uma apoptose.
Por favor, não me trate assim de forma virulenta, feito uma ameba ou um "Cavia porcellus porcellus", pois a estes sei que você dedica apenas olhares científicos e sem paixão. Eu não sou uma cobaia de laboratório. Eu não bacilo nem quando fico como um vibrião colérico. Espero que você deduza que o meu sonho é passear abraçadinho contigo igual a um carrapato, num lindo dia de sol, em Galápagos, dizendo para mim mesmo: Cromossomos felizes.

Ciência&Sexo:

A CIÊNCIA x SEXO

Diversas áreas das ciências como a Psicologia, Medicina, Fisiologia e Biologia, elegem como prioridade atual dar ao planeta um sexo bem melhor. Pênis erguidos por substancias biológicas, órgãos sexuais mapeados milimetricamente, orgasmos cuidadosamente planejados no laboratório. Afinal, como a ciência pode melhorar a sua vida sexual? Vamos agora viajar pelo mundo magnífico da CIENCIA DO SEXO.
O ano era 1954. Masturbação era pecada, Impotência, ejaculação precoce, anorgasmia, fetiche, sexo oral, sexo anal, prazer, homossexualismo era crime, posições sexuais que se soubesse, havia uma só. Orgasmos múltiplos, clitóris não eram assuntos para serem discutidos á mesa. Alias, não era assunto em lugar nenhum. Naquele ano, um fisiologista da Universidade do Missouri iniciava seu projeto de pesquisa.
Bill Masters era o nome dele. Masters estava interessado em algo que a ciência até então ignorava redondamente: os mecanismos de prazer. E saiu, por aí dizendo que as pessoas, em especial as mulheres, as mais oprimidas na cama, e não apenas pelo peso dos corpulentes maridos, têm direito a gozar, afinal a mulher é de fundamental importância para reprodução humana. Masters publicou seus achados com a co-autoria de Virginia Johsonm, com quem, depois de anos de discutindo sobre sexo, acabaria se casando e juntos abriram o caminho para hoje.
Agora sexo é algo natural, está provado. Natural e faz bem, provou-se também. Quem tem uma vida sexual saudável tem índices menores de estresse, o que pode repercutir em vários aspectos da vida, desde melhorando a pele até atrasando a morte, ao prevenir doenças sérias. Por isso que algumas cobras mantêm relações sexuais que podem chegar até 24 horas de pleno deleite copular. Há Viagra nas farmácias, terapeutas sexuais em cada esquina, livros prometendo um caminho mais fácil e rápido ao nirvana orgásmico. Milhares de especialistas se dedicam a aumentar o prazer da humanidade, seja com mágicas bioquímicas, utilizando a mente ou resgatando técnicas milenares nos laboratórios. Temos direito ao orgasmo. Temos direito ao prazer.
Em 1998 a Pfizer exorcizou o fantasma da impotência, Foi sem querer, o Viagra era um remédio para tratar pressão alta, a ereção foi apenas um bem-vindo efeito colateral. Mas depois disto, parecia não haver limites para os recursos da indústria farmacêutica na luta pelo prazer, libido. O viagra, medicamento mais vendido do Brasil, país tropical, oitava maior economia do planeta e o país mais ciumento do mundo, conhece o medicamento como vulgar diamante azul, apelido devido sua forma e cor do comprimido, acaba de ganhar dois aliados nessa luta. Alias aliado coisa nenhuma. Eles são concorrentes de peso no já imenso mercado de drogas contra impotência que movimentam mais de 100 milhões de dólares ao ano no país.
Todos eles agem de maneira parecida. Eles bloqueiam temporariamente a PDE5, uma enzima que funciona como comporta da represa que é o pênis. Explicando: uma ereção acontece porque a excitação masculina provoca o relaxamento dos músculos nos corpos cavernosos do pênis. Relaxados, eles viram uma esponja e encharcada de sangue. Aí o dito-cujo fica duro. Se ficasse duro por duas ou três horas, o pinto caía. Sangue para você já sabe gangrena. Para evitar está grande tragédia, o corpo produz a tal PDE5, que solta o sangue e o deixar voltar a circular. Os princípios ativos do Viagra, do Levitra e Cialis são sutilmente diferentes, porém, todos fazem o mesmo: desligam o PDE5. Os dois remédios novos chegam prometendo vantagens, embora não haja ainda pesquisas comparativas. O levitra age mais rápido em 15 minutos, contra 40 minutos do viagra e tem menos efeitos colaterais, não causa alteração na visão, mas, assim como os concorrentes, podem dar dor de cabeça e entupir o nariz. Já a Cialis aposta na duração do efeito. Quem toma amêndoa amarela fica sujeito e ereções a qualquer estímulo por até 34 horas, contra menos de oito horas para seus concorrentes.
O uso recreativo dos medicamentos principalmente o viagra pode causar dependência química, pois é uma droga. A indústria do remédio lucra muito, pois o medicamento é vendido muitas vezes sem receite azul e as próprias empresas acham que não só melhoraram o sexo, mas, também a saúde destes indivíduos.
Mas talvez a chave de um bom sexo não esteja nos remédio. Mas em nós mesmos. Um exemplo disto é que antes de Masters, Johnson e Kinsey abrissem as portas para a busca do tal prazer no “ponto G”. O fugido pedacinho de pele que fica num lugar bem acessível, na parede superior da vagina, a mais ou menos meio dedo de profundidade, em frente ao clitóris, só que do lado de dentro. Acha-lo é fácil. Basta colocar o dedo dentro da vagina, com a ponta dele encostada-se ao teto, e ir afundando. Você vai notar que a parede vai ficando cada vez mais alta até chegar a um ponto culminante, antes de começar a baixar de novo.
Esse ponto culminante é o ponto G. O ponto G vem em homenagem ao pesquisador e ginecologista alemão Grafemberg que descobriu tal ponto em 1950 e morreu sete anos depois, isto é, antes da fama.
Nos anos 70, dois médicos americanos que tratavam mulheres com incontinência urinária, notaram que algumas mulheres tinham a Musculatura Pulbococcígeo o PC, músculo que serve para fechar a passagem de urina, algumas se apresentavam forte e outras tinham o PC fraco. Quem têm este problema urinário, como é de se esperar, ele é fraquinho. Estranho uma pessoa com esta musculatura tão desenvolvida não segurar o xixi. Outra coisa intrigante, ela só tinham incontinência em uma situação: durante o sexo. Mais especificamente durante o orgasmo ou depois dele.
Em meados dos idos de 1980 da visita do Papa João Paulo II ao Brasil, dois médicos, chamados de Perry e Beverly encontraram uma explicação para o dito cujo. As mulheres não sofriam de incontinência urinária. O líquido que elas soltavam não era urina. Ele vinha do canal da uretra, era um líquido inodoro e sua composição semelhante à do fluído da próstata masculina, que mistura ao espermatozóide para forma o esperma. Em resumo: as mulheres estavam ejaculando. A ejaculação feminina não é novidade: povos da áfrica e Ásia já o conhecem há tempos. Porém a ciência ocidental nunca ligou para isto porque, jamais tinha se preocupado com o orgasmo, principalmente o feminino.
Pressão no períneo. Ejaculação feminina. Ponto G. tudo isso tem soado como novidade no Ocidente. Mas, no Oriente, essas coisas são mais velhas que Confúcio. Eles conhecem o poder do períneo há três milênios. Na China, o País mais populoso do planeta chamam essa região de “ponto de 1 milhão de moedas de ouro”, para informar o quanto valia o conselho de um sábio que ensinasse onde ele era. Árabes e indianos também tinham complexos manuais de sexo.
Será que isso prova que a ciência ocidental não vale nada diante da sabedoria ancestral oriental? Claro que não. Prova só que a nossa sociedade renegou a pesquisa sobre o prazer.Deixo num segundo plano..
A idéia básica é que todo mundo, inclusive os homens; é capaz de obter orgasmos múltiplos. Sim meu caro aluno, você leu certo. Para tal feito, tudo que os indivíduos masculinos devem fazer é simples: aprender a ter orgasmo sem ejacular. Vamos aos passos. Primeiro fortalecer o tal PC Pulbococcígeo. Para saber qual é esse músculo, comece a urinar e no meio da revolução, interrompa o fluxo. Pronto, você achou o PC. Contrair e relaxar várias vezes quer lembrar é o ideal.
Você deve prestar atenção no outro. É dessa atenção mútua que a obsessão por performance pode nos afastar. Orgasmo é bom. Mas é só um dos momentos da relação. Sexo se faz a dois (não necessariamente a dois, pode ser a três ou a quatro). Normalmente num quarto fechado, longe do debate público, das promessas das Indústrias farmacêuticas. O que acontece por lá é assunto só seu e de que estar com você. Se você tem prazer sem nada de problemas, parabéns.
Se não faz sexo nunca ou quase nunca, mais tira de algum lugar o conforto para seguir vivendo sem muito estresse, como acontece com muitas pessoas, fique a vontade. Já passamos tempo demais tendo que ouvir os outros nos dizerem o que fazer na cama. A ciência está empenhada em tornar o seu sexo cada vez melhor e dar algumas fórmulas do prazer.

Fonte: Revista Super Interessante

Hereditariedade e Genética Moderna

Genética


Um dos fenômenos mais intrigantes da natureza é o fato de cada ser vivo provir de outro, de que herda a forma, as características e a estrutura. Assim, cada microrganismo, planta ou animal só produz indivíduos de sua espécie e não de outra.Genética é a ciência cujo objeto é a herança biológica, isto é, a transmissão dos caracteres morfológicos, estruturais, fisiológicos, bioquímicos e até de comportamento de uma para outra geração de seres vivos de uma espécie. Dada a íntima relação que mantém com outras áreas do conhecimento, a genética é uma ciência multidisciplinar. Seu método é basicamente o mesmo das demais ciências experimentais: a observação e a experimentação, com vasta aplicação de técnicas tomadas de empréstimo à química, à matemática, à estatística, à física, à microbiologia e demais ciências.
Subdivisões da genética. A genética molecular estuda a natureza do material e dos fenômenos genéticos ao nível químico, enquanto a citogenética se ocupa dos fundamentos citológicos da hereditariedade, especialmente da observação dos cromossomos ao microscópio. No plano da evolução de cada espécie, as mudanças que ocorrem em grandes massas de indivíduos e determinam a substituição de uns caracteres por outros ao longo do tempo constituem a área de pesquisa da genética de populações. No que se refere ao homem, constituiu-se a genética humana, de grande importância em medicina e na antropologia.A partir da década de 1970 surgiu uma nova disciplina, de possibilidades ilimitadas, que promete revolucionar a agricultura e a pecuária, a medicina, a farmacologia e até a produção industrial: a engenharia genética. Um dos procedimentos da engenharia genética, por exemplo, consiste em introduzir, no equipamento hereditário das bactérias, componentes alheios capazes de produzir, a baixo custo e em grandes quantidades, devido à alta velocidade de multiplicação das culturas bacterianas, substâncias, fármacos e hormônios escassos ou dispendiosos.
Princípios básicos. Um caráter biológico é todo aspecto qualitativo (como cor dos olhos, forma da boca etc.) ou quantitativo (comprimento de uma pata, envergadura das asas) que faz parte da forma ou da estrutura dos seres vivos e que é transmitido de geração a geração.As células que compõem a maioria dos organismos vivos contêm, em sua parte central, um corpúsculo arredondado denominado núcleo, em cujo interior se encontra o material genético, o ácido desoxirribonucléico (ADN). No momento em que a célula se divide, essa substância se individualiza numa série de estruturas microscópicas em forma de bastonetes que recebem o nome de cromossomos.Cada unidade de informação hereditária presente no cromossomo denomina-se gene e será responsável pela produção de determinado caráter biológico. Nesse contexto deve-se também situar o conceito de alelo, gene que tem mais de uma possibilidade de expressão nos descendentes. Os alelos são, portanto, estados diferentes de uma mesma unidade genética. Os genes que determinam o fator Rh do sangue, por exemplo, são os alelos R e r. Chama-se homozigoto o indíviduo que apresenta em seu genótipo um par de alelos idênticos (RR, rr), e heterozigoto aquele que possui alelos diferentes (Rr).O fato de um caráter manifestar-se ou não depende de muitos fatores e, assim, nem todos os genes darão origem a uma característica evidente no indivíduo. O conjunto das potencialidades genéticas de um organismo é seu genótipo, e o conjunto dos caracteres plenamente manifestos é seu fenótipo. Nos seres com reprodução sexuada, o novo indivíduo herda um jogo de cromossomos proveniente do pai e outro da mãe, razão pela qual cada caráter virá regido por dois genes, cada um situado no correspondente cromossomo, transmitido por genitor e genitora.Pode acontecer que um mesmo caráter apresente certa variação conforme seja produzido pelo gene paterno ou pelo materno. Se um dos genes tiver predominância sobre o outro, manifestará sua característica biológica em detrimento daquela do segundo. Diz-se então que o caráter manifesto é dominante e o do outro genitor, recessivo. Se os dois tiverem a mesma capacidade de manifestar o aspecto por eles regulado, trata-se de um fenômeno de co-dominância e o caráter resulta intermediário em relação aos dos pais. Assim, por exemplo, a co-dominância manifesta-se em plantas, como a maravilha (Mirabilis jalapa), em que o cruzamento de dois indivíduos puros, um vermelho e um branco, gera descendentes cor-de-rosa.Uma linhagem pura é aquela em que um determinado caráter se manifesta sem variações, de geração em geração. Em caso contrário, diz-se que a linhagem é híbrida, e o caráter varia segundo os princípios ou leis de Mendel.
Resumo histórico. Embora desde a antiguidade filósofos, pensadores e poetas tenham refletido sobre a influência da herança nos seres vivos, o tratamento científico e rigoroso da questão só ocorreu há relativamente pouco tempo. Em sua teoria da evolução, Charles Darwin já reconhecia a importância da transmissão dos então chamados "fatores hereditários" na modificação dos organismos, mas foi o monge austríaco Gregor Mendel que estudou com rigor esse fenômeno e descobriu as leis que lhe tomaram o nome.Apesar de terem sido expostas num trabalho publicado em 1866, as leis de Mendel passaram despercebidas para a ciência até que, no começo do século XX, foram redescobertas, de forma independente, por três cientistas: o holandês Hugo de Vries, o alemão Carl Erich Correns e o austríaco Erich Tschermak. Em 1902, o americano Walter Sutton descobriu que os fatores hereditários localizavam-se nos cromossomos das células. Vários anos mais tarde, em 1908, o matemático inglês Godfrey H. Hardy e o médico alemão Wilhelm Weinberg formularam independentemente as bases matemáticas para o estudo da herança nas populações, conhecidas como lei de Hardy-Weinberg.Um importante avanço no terreno experimental ocorreu quando o americano Thomas Hunt Morgan começou a utilizar, em suas pesquisas genéticas, a mosca-do-vinagre (Drosophila melanogaster), cujos caracteres hereditários podem ser facilmente observados e só tem quatro pares de cromossomos por célula. Morgan demonstrou que determinados caracteres não são transmitidos de forma independente, e sim conjunta, em virtude da proximidade dos genes correspondentes no cromossomo.Na década de 1930, George W. Beadle e Edward L. Tatum descobriram que os genes têm influência direta na produção de enzimas, proteínas que facilitam as reações químicas nos organismos, e Oswald T. Avery provou que o ADN era o material genético. A estrutura molecular dessa substância, base química da hereditariedade, foi pesquisada por James D. Watson e Francis H. C. Crick, e logo se identificou o mecanismo pelo qual o ácido nucléico dirige a função celular para sintetizar as proteínas e enzimas das quais dependerá a atualização dos caracteres biológicos.A informação que rege a seqüência dos aminoácidos, compostos que se unem em longas cadeias para constituir as proteínas, está codificada no ADN de maneira precisa, no que se conhece como código genético. Foram necessários muitos anos de trabalho, de várias equipes de estudiosos de diversas nacionalidades antes que se entendesse o código genético. A atuação dos genes e o modo como sua atividade é regulada, de acordo com as necessidades da célula em cada instante, começaram a ser compreendidas a partir dos estudos dos bioquímicos franceses François Jacob e Jacques Monod, no começo da década de 1960.
Projeto Genoma Humano. Cientistas de vários países começaram a desenvolver, em 1989, o Projeto Genoma Humano, patrocinado pelo Instituto Nacional de Saúde e pelo Departamento de Energia americanos. O objetivo do projeto era identificar, até o ano 2005, cada um dos aproximadamente cem mil genes e três bilhões de pares de nucleotídeos que compõem uma molécula de ADN. O Prêmio Nobel de fisiologia e medicina James D. Watson, descobridor da estrutura em hélice dupla do ADN, assumiu inicialmente a direção do projeto.O trabalho de identificação consistia no mapeamento do código genético, isto é, no registro da posição de cada um dos genes nos 23 pares de cromossomos humanos, e em seu seqüenciamento, ou determinação da ordem precisa de ocorrência dos nucleotídeos que compõem cada gene. Esperava-se encontrar informações importantes em menos de dez por cento do genoma.Os responsáveis pelo projeto acreditavam que a descoberta da posição de cada gene, além de sua composição e função no organismo, seria a chave para o diagnóstico e a cura de muitas doenças, como câncer, obesidade, diabetes, doenças auto-imunes e hipertensão. Os críticos do projeto, no entanto, alertavam para o perigo do uso indevido das informações genéticas. Candidatos a emprego, por exemplo, poderiam ser recusados com base em testes capazes de revelar predisposição genética para certas doenças, como o alcoolismo.
Leis de Mendel. Por volta de 1860, Gregor Mendel experimentou diversos cruzamentos entre pés de ervilha da variedade Pisum sativum, que apresentavam diferenças de caracteres facilmente observáveis, como a superfície lisa ou rugosa das sementes e sua cor verde ou amarela. Determinou, em seguida, a proporção de descendentes que herdavam um e outro caráter e acompanhou as modificações dessa proporção ao longo de gerações sucessivas. Desse modo descobriu as três leis que tomaram seu nome e serviram de base para o desenvolvimento posterior da genética.A primeira lei, conhecida como a da uniformidade, mostra que, quando se cruzam dois indivíduos originários de linhagens puras, os quais apresentam determinado caráter -- por exemplo, cor dos olhos -- diferente um do outro, os descendentes mostram uma homogeneidade na característica estudada e todos herdam o caráter de um dos genitores (fator dominante), enquanto que o do outro aparentemente se perde, ou então apresentam um traço intermediário em relação aos traços de ambos os pais. Neste último caso, diz-se que existe co-dominância.A segunda lei, a da segregação, demonstra que os fatores hereditários (genes) constituem unidades independentes que passam de uma geração para outra sem sofrer nenhuma alteração. Quando se cruzam entre si os descendentes obtidos do cruzamento entre duas linhagens puras, observa-se que o caráter que não se manifestou -- recessivo -- fica patente na segunda geração, na proporção de um quarto da descendência, enquanto o caráter dominante ocorre em três quartos dos descendentes. Portanto, cada par de genes que determinam certo caráter separa-se no processo de formação das células reprodutoras e os fragmentos resultantes se combinam ao acaso.O processo fica claro quando é representado num esquema gráfico. Chame-se A o gene dominante e a o recessivo. Num cruzamento entre descendentes do primeiro, ocorre uma nova transmissão de caracteres. Por ser dominante, A se manifestará em três quartos dos descendentes (basta que esteja presente um só gene A), enquanto que, para que a se manifeste, o indivíduo deve ser portador de dois genes a, o que reduz substancialmente as possibilidades de que esse caráter apareça.A terceira lei, a da transmissão independente, dispõe que cada caráter é herdado independentemente dos caracteres restantes. Para chegar a essa conclusão, Mendel cruzou plantas que diferiam em dois caracteres (di-híbridos) e cujo genótipo era, por exemplo, AaBb. Quando se formaram as células reprodutoras, originaram-se quatro tipos distintos: AB, Ab, aB e ab, que se combinaram de todas as formas possíveis com os mesmos tipos do outro indivíduo: __________________________________ AB Ab aB ab _________________________________________ AB AABB AABb AaBB AaBb _________________________________________ Ab AAbB AAbb AabB Aabb _________________________________________ aB aABB aABb aaBB aaBb _________________________________________ ab aAbB aAbb aabB aabb _________________________________________No total, obtêm-se 16 genótipos possíveis, que aparecem no quadro acima. Manifestarão o duplo caráter A e B os seguintes: AABB, AABb, AaBB, AaBb, AAbB, AabB, aABB, aABb e aAbB, num total de nove genótipos. O caráter dominante A com o recessivo b está em três indivíduos: AAbb, Aabb e aAbB; o recessivo a e o dominante B em outros três: aaBB, aaBb e aabB; e os recessivos a e b só aparecem em um, o aabb. A proporção é, portanto, 9/3/3/1.As leis de Mendel cumprem-se em todos os seres vivos dotados de reprodução sexuada e nos quais se formam células reprodutoras especiais. Em muitos casos, porém, as proporções previstas segundo essas leis não ocorrem, em virtude da intervenção de uma série de fatores que mascaram os resultados previstos. Assim, muitos caracteres não dependem apenas de um par de genes, mas de dois ou mais, de forma que, para que o caráter se torne patente e o produto final se elabore, é necessário que todos os genes funcionem normalmente. Se algum deles sofrer alteração, a proporção será afetada.Muitas vezes, certos caracteres não se transmitem de forma independente porque os genes que os codificam estão próximos um do outro num mesmo cromossomo, no que se denomina grupo de ligação. Dessa forma, por exemplo, se em estudos genéticos realizados em espécimes da mosca-do-vinagre os alelos codificadores de caracteres como "corpo negro" ou "asa curva" se encontrarem localizados no mesmo par de cromossomos homólogos, caberia esperar que um espécime de corpo negro apresentasse sempre asas curvas. Tal fenômeno, no entanto, não se produz, por força do chamado crossing-over ou sobrecruzamento.O crossing-over ocorre no processo de divisão celular ou meiose quando dois fragmentos cromossômicos (cromátides), cada um pertencente a um membro do mesmo par de cromossomos, unem-se momentaneamente para mais tarde se romperem e permutarem fragmentos. Nos casos em que se registram crossing-over, duas cromátides com genes AB e ab passam a apresentar uma dotação genética da forma Ab e aB. Em geral, esse tipo de inter-relação constitui o que se denomina recombinação genética.Alelos múltiplos e mutações. Nas experiências genéticas observou-se que, nos alelos originais, pode produzir-se uma sucessão de alterações ou mutações que originam os chamados alelos múltiplos. Nessas ocasiões, um gene A pode produzir, por sucessão de mutações ao longo da evolução de uma espécie, uma gradação de alelos aa, ab, ac e outros, com a conseqüente possibilidade de emparelhamentos aaA, abA, acA. Em cada caso, a expressão desses alelos depende do modelo de dominância que se estabelecer.Nesse particular, as mutações se associam às repentinas mudanças produzidas no fenótipo de um espécime, originadas por modificações genotípicas e, conseqüentemente, transmissíveis por hereditariedade. Entre as muitas modalidades de mutação cabe citar as que produzem diminuição ou aumento da dotação cromossômica, as que geram mudanças quantitativas num par e as que geram perdas de fragmentos cromossômicos, ou deleções.
Hereditariedade e sexo. O sexo de um indivíduo é determinado pela existência de um par de cromossomos especiais denominados cromossomos sexuais, que têm o mesmo aspecto e a mesma configuração na fêmea, em que se representam como XX, e de morfologia distinta no macho, em que se representam como XY. Os cromossomos X têm grande importância em genética, pois a eles estão ligados alguns caracteres, como os que determinam o daltonismo (defeito visual em que o indivíduo não distingue algumas cores) ou a hemofilia (grave afecção caracterizada pela incapacidade do organismo para coagular o sangue).O gene que determina o daltonismo é recessivo em relação ao gene normal. Como está ligado ao cromossomo X, só provoca o daltonismo na mulher se ela tiver os dois genes recessivos; já o homem (com um só cromossomo X) apresentará daltonismo sempre que herdar o gene recessivo. Por isso, tal anomalia é oito vezes mais habitual em homens do que em mulheres.
Genética e medicina. Além do daltonismo e da hemofilia, muitas outras alterações e doenças do ser humano têm origem genética, razão pela qual o estudo dos mecanismos de transmissão hereditária tem grande importância para a medicina.O ser humano tem uma dotação de 23 pares de cromossomos, cuja morfologia pode ser analisada pela obtenção de microfotografias de preparados celulares em que os cromossomos estejam individualizados e pela posterior ordenação dos pares cromossômicos segundo o tamanho, a forma etc. Desse modo chega-se aos chamados cariótipos, com que é possível diagnosticar certas doenças resultantes de alterações cromossômicas, como a síndrome de Down, também denominada mongolismo e trissomia 21, por originar-se da presença de um cromossomo extra no par número 21.Entre as principais afecções causadas por alterações genéticas estão a cegueira noturna ou hemeralopia; o albinismo (ausência de pigmentação, com pêlos e pele completamente brancos, além da íris vermelha em virtude do sangue que a irriga); vários tipos de deficiência mental, muitas vezes resultantes de transtornos genéticos do metabolismo, que determinam danos irreparáveis no cérebro; surdo-mudez e muitas malformações como a polidactilia (existência de mais de cinco dedos em cada extremidade) ou a sindactilia (afecção em que os dedos se apresentam soldados entre si).
1. As "Ferramentas" da Genética
Cada área do conhecimento humano, inclusive os diversos segmentos das ciências biológicas, emprega determinadas "ferramentas de trabalho", e dentre elas algumas regras de nomenclatura padronizadas.
Em genética, algumas expressões são bastante empregadas, e é muito importante que tomemos contato e nos familiarizemos com elas.
A seguir, passaremos a listar algumas dessas principais expressões. Outras mais surgirão, ao longo do curso de genética, e serão explicadas oportunamente.
2. Autofecundação
É a fecundação entre gametas masculino e feminino originados por um só ancestral. Entre os vegetais, é muito freqüente, pois habitualmente coexistem o sistema reprodutor masculino e o feminino em uma mesma flor.
Nos animais, a autofecundação não é tão comum. Mesmo as espécies dotadas de sistemas reprodutores masculinos e femininos em um mesmo indivíduo, como as minhocas, necessitam de dois animais para que aconteça a fecundação. Esses animais dotados de ambos os sistemas reprodutores são chamados hermafroditas. Os que realizam a autofecundação, como as tênias, parasitas intestinais do homem, são os hermafroditas monóicos.
3. Fecundação Cruzada
É a que ocorre entre gametas originários de dois indivíduos diferentes, de sexos diferentes ou não. Nas espécies com sexos separados, a fecundação cruzada é a única forma possível de fecundação.
As minhocas, já citadas anteriormente, mesmo sendo hermafroditas não realizam a autofecundação. Os gametas masculinos de um animal fecundam os gametas femininos de outro animal, e vice-versa. São hermafroditas dióicos.
4. Caráter ou Aspecto
É a denominação empregada para designar qualquer característica de um ser vivo que pode ser observada ou detectada de alguma forma, e que permite distinguir indivíduos de uma mesma espécie ou de espécies diferentes.
Nos vegetais, são exemplos de caráter: a cor das flores, a posição das flores ao longo dos ramos, a cor dos frutos, o sabor dos frutos, etc. Nos animais, podemos citar a cor da plumagem ou da pelagem, a estatura, o tipo sangüíneo, etc.
A descrição de um caráter, para um determinado organismo, constitui o seu fenótipo. Assim, dizer que uma planta possui flores brancas ou que um animal tem pêlos longos são exemplos de fenótipos.
5. Cromossomos
Cada um dos filamentos de cromatina presentes nas células. Nos eucariontes, os cromossomos são formados por DNA e por proteínas, e estão no interior do núcleo individualizado, delimitado pela carioteca. Nos procariontes, os cromossomos são, geralmente, circulares. Se constituem exclusivamente de DNA.
Quando comparamos células masculinas com células femininas, geralmente podemos destacar um par de cromossomos cujos componentes são diferentes, nos machos e nas fêmeas. Nos homens, existe um par de cromossomos XY. Nas mulheres, o par é XX. Esses cromossomos que diferenciam uma célula masculina de uma célula feminina são os cromossomos sexuais ou alossomos. Os demais cromossomos, pares idênticos nas células masculinas e femininas, são cromossomos autossomos.
Nas células diplóides, com quantidade 2n de cromossomos, eles existem aos pares, isso é, sempre existem dois cromossomos de mesmo tamanho, mesma forma, mesma classificação quanto à posição dos centrômeros, etc. São os cromossomos homólogos.
Cada segmento do cromossomo capaz de determinar a produção de uma proteína e, portanto, capaz de controlar uma característica morfológica ou funcional do indivíduo é conhecido por gene. Assim sendo, podemos definir geneticamente um cromossomo como "uma seqüência linear de genes". O local ocupado pelo gene no cromossomo é o locus gênico (o plural de locus é loci).
Quando um gene está localizado em um dos cromossomos autossômicos, ele é chamado gene autossômico.
6. Genes Alelos
Em um mesmo par de cromossomos homólogos, os genes localizados em posições correspondentes são genes alelos ou alelomorfos. Atuam sempre sobre o mesmo caráter. Por exemplo: se um gene determina a cor dos olhos, em uma espécie animal, o seu alelo também atua sobre a cor dos olhos.
Genes alelos diferentes surgem uns dos outros graças à ocorrência de mutações gênicas, pequenas alterações na seqüência de bases das suas moléculas de DNA. Dessa forma, existem diversas alternativas de ocupação de um mesmo locus.
Eventualmente, um gene pode impedir a manifestação de um ou mais de seus alelos. O gene capaz de impedir a manifestação dos seus alelos é conhecido por gene dominante. O que tem o seu efeito bloqueado por um alelo dominante é chamado gene recessivo.
7. Genótipo
Consiste na representação do patrimônio hereditário ou genético de um indivíduo. Quando um indivíduo possui dois genes alelos iguais, ele é chamado homozigoto ou puro.
Se, em um certo locus gênico, os genes alelos são diferentes, o indivíduo é heterozigoto ou híbrido. Ainda sobre os homozigotos, quando o indivíduo tem dois genes alelos iguais, dominantes, ele é homozigoto dominante. Se ambos os seus alelos forem recessivos, ele é homozigoto recessivo.
Para facilitar a representação do genótipo de um indivíduo, geralmente se empregam letras para indicar os genes, habitualmente, se escolhe para representar um determinado caráter a inicial do aspecto recessivo. Vejamos um exemplo. Imagine que, em uma espécie vegetal existam dois genes alelos que controlam a cor das flores. O alelo dominante determina o surgimento de flores vermelhas, enquanto o seu alelo recessivo determina flores brancas. Como flor branca é o aspecto recessivo, vamos escolher, para representar esse par de genes alelos, a letra a.
O gene dominante, no caso o que determina flores vermelhas, é indicado pela letra maiúscula (A), e o alelo recessivo pela letra minúscula (a).
Os genótipos possíveis seriam esses:

AA - homozigoto dominante
Aa - heterozigoto
aa - homozigoto recessivo

Uma outra forma de se distinguir o gene dominante do recessivo é representálo por uma letra seguida do sinal +. Usando o mesmo exemplo de cor das floras, o gene dominante seria designado por a+, e o gene recessivo por a.
Essas regras de representação de genes não são obrigatórias, mas são geralmente usadas. Apesar disso, é sempre conveniente que se faça uma legenda, indicando os símbolos que estão sendo empregados para se representar os pares de alelos
A forma de manifestação de um aspecto depende da interação entre fatores genéticos e influências ambientais. Algumas características sofrem mais influência ambiental, outras menos ou nenhuma influência. Podemos representar essa interação da seguinte forma:
FENÓTIPO = GENÓTIPO + MEIO AMBIENTE
As mais intensas ações ambientais podem chegar a determinar o aparecimento de um fenótipo totalmente distinto daquele correspondente ao genótipo do indivíduo, a ponto de fazê-lo "imitar" o aspecto condicionado por um genótipo diferente. Os indivíduos que, por força de influência ambiental, exibem um fenótipo correspondente a um genótipo diferente do seu são chamados fenocópias.
Vejamos um exemplo: na espécie humana, há genes que determinam a cor clara dos cabelos. Se uma pessoa morena tingir os seus cabelos, poderá imitar o fenótipo correspondente a um genótipo distinto do seu. Trata-se de uma fenocópia.
8. Linhagem
Dentro de uma espécie, o conjunto de indivíduos que apresentam o mesmo genótipo ou o mesmo fenótipo constituem linhagens ou variedades. Portanto, existem linhagens genotípicas (conjuntos de indivíduos com o mesmo genótipo) e linhagens fenotípicas (conjunto de indivíduos com o mesmo fenótipo). Podemos, ainda, dizer classes genotípicas e classes fenotípicas.
Dentro de uma linhagem genotípica, todos os indivíduos devem apresentar o mesmo fenótipo, ressalvando-se as influências ambientais. Já dentro de uma linhagem fenotípica, podem ser encontrados indivíduos com genótipos diferentes.
Consideremos uma espécie animal onde um gene dominante M condiciona pelagem branca, e seu alelo recessivo determina pelagem marrom. Podem ser encontrados indivíduos com os seguintes genótipos e fenótipos:

MM - pelagem branca
Mm - pelagem branca
mm - pelagem marrom

Nessa espécie, existem três classes genotípicas: indivíduos de genótipo MM, indivíduos de genótipo Mm e indivíduos de genótipo mm. Observe que, dentro de uma certa classe genotípica, todos os indivíduos possuem o mesmo fenótipo.
São duas as classes fenotípicas: animais de pelagem branca e indivíduos de pelagem marrom. Dentre os animais de pelagem marrom, todos possuem genótipo mm. Todavia, dentre aqueles de pelagem branca, há indivíduos de genótipos MM e indivíduos de genótipo Mm. Fenotipicamente, não há como distinguir um indivíduo MM de um indivíduo Mm.
Chamamos de fenótipo selvagem o fenótipo encontrado mais freqüentemente na natureza. Geralmente, o fenótipo selvagem é o determinado por genes dominantes, embora haja inúmeras exceções. Na espécie humana, por exemplo, o sangue tipo O é o mais freqüente em muitas populações, embora seja condicionado por um gene recessivo.

Cronologia de descobertas importantes na Genética
1859 Charles Darwin publica A origem das espécies
1865 Gregor Mendel publica Experimentos em hibridação vegetal
1903 Cromossomas descobertos como sendo as unidades da hereditariedade
1905 O biólogo William Bateson utiliza o termo "genética" numa carta dirigida a Adam Sedgwick
1910 Thomas Hunt Morgan demonstra que os genes estão localizados nos cromossomas
1913 Alfred Sturtevant elabora o primeiro mapa genético de um cromossoma
1918 Ronald Fisher publica On the correlation between relatives on the supposition of Mendelian inheritance - a sintese moderna dá os seus primeiros passos
1913 Mapas genéticos mostram cromossomas contendo arranjos lineares de genes
1927 Mudanças físicas nos genes são denominadas mutações
1928 Frederick Griffith descobre uma molécula de hereditariedade que é transmissível entre bactérias
1931 Sobrecruzamento (Crossing over) é a causa da recombinação genética
1941 Edward Lawrie Tatum e George Wells Beadle demonstram que os genes codificam proteínas; ver o dogma central da genética original
1944 Oswald Theodore Avery, Colin McLeod e Maclyn McCarty isolam o DNA como sendo material genético (na altura chamado princípio transformante)
1950 Erwin Chargaff mostra que os quatro nucleótidos não estão presentes no ácido nucleico em proporções estáveis, mas que algumas regras básicas se aplicam (quantidade de timina igual à de adenina). Barbara McClintock descobre transposões no milho
1952 A experiência de Hershey-Chase prova que a informação genética de fagos e de todos os outros organismo é composto por DNA
1953 A estrutura do DNA (dupla hélice) é descoberta por James D. Watson e Francis Crick
1956 Jo Hin Tjio e Albert Levan estabelecem que o número correcto de cromossomas na espécie humana é de 46 (n=23)
1958 A experiência de Meselson-Stahl demonstra que o DNA tem uma replicação semi-conservativa
1961 O código genético está organizado em tripletos
1964 Howard Temin mostra, usando vírus de RNA, que o dogma central de Watson não é sempre verdade
1970 Enzimas de restrição são descobertas em estudos com a Haemophilius influenzae, permitindo assim aos cientistas o corte do DNA e a sua transferêcia entre organismos
1977 DNA é sequenciado pela primeira vez por Fred Sanger, Walter Gilbert e Allan Maxam. O laboratório de Sanger completa a sequência completa do genoma de Bacteriófago Phi-X174
1983 Kary Banks Mullis descobre a reacção de polimerização em cadeia (en:PCR), proporcionando um meio fácil de amplificar DNA
1989 Um gene humano é sequenciado pela primeira vez por Francis Collins e Lap-Chee Tsui: codifica uma proteína que no seu estado defeituoso provoca a fibrose cística
1995 O genoma de Haemophilus influenzae é o primeiro de um organismo vivo a ser sequenciado
1996 Primeiro genoma de um eucariota a ser sequenciado: Saccharomyces cerevisiae
1998 É publicada a primeira sequência genómica de um organismo eucariota multicelular: C. elegans
2001 Primeiro rascunho da sequência do genoma humano é publicado
2003 (14 de Abril) 99% do genoma humano foi sequenciado pelo Projecto do Genoma Humano (com uma precisão de 99,99%)
Fonte: www.biomania.com.br

Vírus

Os Vírus
Introdução
Na Antigüidade, o termo ‘vírus’ (do latim; significa veneno) foi utilizado como sinônimo de veneno e se referia a agentes de natureza desconhecida que provocavam diversas doenças.
A descoberta dos vírus deve-se a Dmitri Ivanowsky (em 1892), que, ao estudar a doença chamada ‘mosaico do tabaco’, detectou a possibilidade de transmissão da doença a partir de extratos de vegetais doentes para vegetais sadios, por meio de experimentos com filtros capazes de reter bactérias. Essa moléstia afeta as plantas do fumo, manchando as folhas com áreas necrosadas e levando-as à morte.
Em 1935, cristais de vírus foram isolados e observados ao microscópio pela primeira vez. A sua composição parecia principalmente protéica, porém constatou-se mais tarde uma pequena quantidade de ácidos nucléicos.
Nos sistemas tradicionais de classificação dos seres vivos, os vírus não são incluídos por não apresentarem características morfológicas celulares. Eles possuem estrutura molecular apenas visível ao microscópio eletrônico. Sua estrutura vem sendo cada vez mais esclarecida, à medida que a tecnologia em microscopia eletrônica evolui. Eles são tão pequenos que podem penetrar na célula das menores bactérias que se conhecem.
Estruturas de vários vírus vistos com o microscópio eletrônico: as partículas esféricas são os vírus do mosaico amarelo do nabo; os cilindros longos são os vírus do mosaico do tabaco e no centro, temos, o bacteriófago T4.
Figura em micografia um vírus. 1
Nos sistemas tradicionais de classificação dos seres vivos, os vírus não são incluídos por serem considerados partículas ou fragmentos que só adquirem manifestações vitais quando parasitam células vivas.
Apesar de até hoje ainda persistir a discussão em torno do tema, a tendência é considerar os vírus como seres vivos.
Os vírus são extremamente simples e diferem dos demais seres vivos pela inexistência de organização celular, por não possuírem metabolismo próprio, e por não serem capazes de se reproduzir sem estar dentro de uma célula hospedeira. São, portanto, parasitas intracelulares obrigatórios; são em conseqüência, responsáveis por várias doenças infecciosas.
Geralmente inibem o funcionamento do material genético da célula infectada e passam a comandar a síntese de proteínas. Os vírus atacam desde bactérias, até plantas e animais. Muitos retrovírus (vírus de RNA) possuem genes denominados oncogenes, que induzem as células hospedeiras à divisão descontrolada, com a formação de tumores cancerosos.

Filtrabilidade

Essa característica, que serviu de base para a descoberta do vírus, originou a denominação vulgar de "vírus filtrável", termo que teve de ser abandonado pelo fato de, posteriormente, se descobrir que existem bactérias filtráveis, como certos espiroquetas, e vírus não filtráveis, como o vírus do Mosaico Comum do feijoeiro e o do "Crinkle Mosaic" da batatinha. A filtrabilidade do vírus não é uma pura conseqüência de seu diminuto tamanho. Tipo de filtro, temperatura, ph, carga elétrica do vírus e do filtro, quantidade de pressão exercida sobre o filtro, natureza do fluído da suspensão e duração da filtração, são fatores que devem ser levados em consideração ao se determinar a filtrabilidade do vírus. Atualmente se dispõe de filtros de colódio, as Membranas de Gradocol, em que o tamanho dos poros é muito mais importante do que nos filtros bacteriológicos de porcelana.

Natureza Corpuscular

Desde 1898 se suspeita da natureza corpuscular do vírus, com a teoria do "contagium vivum fluidum", denominação que Beijerink emprestou de Fracastorius (1546) para caracterizar o filtrado infectivo do suco de fumo com mosaico. A guisa de esclarecimento, contagium era uma substância derivada do corpo do doente e que, passando de um indivíduo para outro, transmitia a doença e a teoria do contagium vivum foi criada por Fracastorius, quando postulou a idéia de que o contagium fosse devido a agentes vivos (seminaria). Entretanto, por muitos anos, essa característica foi um ponto altamente controvertido pois a ciência ainda não estava preparada para comprová-la. Apesar disso, mesmo antes da descoberta de microscópio eletrônico, em 1938, Wendell Stanley (1935) já mostrava evidências irrefutáveis sobre a natureza corpuscular do vírus ao cristalizar o vírus do Mosaico do Fumo. Hoje, acostumamos com representações esquemáticas e eletromicrográficos dos vírus, dificilmente imaginamos que essa característica tivesse sido um pomo de discórdia no passado.
Natureza Antigênica
Muito antes da descoberta dos vírus, já se sabia que doenças hoje conhecidas eram causadas por vírus, como por exemplo a varíola, conferiam resistência contra incidências subsequentes. A vacina contra a varíola se baseia, ainda hoje, na descobertas de Jenner (1798) de que o vírus do "cow-pox"(varíola bovina) imuniza contra o "small-pox"(varíola humana). Proteínas introduzidas no corpo animal, por via parenteral, sendo elas estranhas ao corpo do animal, induz a formação de substância que reagem especificamente com as proteínas injetadas. Estas proteínas estranhas constituem os antígenos e as substâncias induzidas, os anticorpos. Sendo os vírus de natureza nucleoproteica tem essa propriedade antigêno que serve de base para os métodos sorológicos usados em Virologia. Especula-se, atualmente, se as plantas possuem essa capacidade de formação de anticorpos, comprova somente em animais. Estirpes fracas do vírus da tristeza dos citros conferem resistência às estirpes mais severas do mesmo vírus. A natureza desse fenômeno, entretanto, não esta esclarecida.
Dimensões do vírus

As dimensões dos vírus, evidenciadas por estudos eletromicroscópicos, de ultrafiltração e ultracentrifugação, variam de 10 a 350 milimicra de diâmetro; o comprimento chega até 2.000 milimicra (vírus da Tristeza do Citrus). A guisa de comparação, os glóbulos vermelhos do sangue humano têm 7.500 milimicra de diâmetro e, dentro de uma célula bacteriana, podem caber mais de 1 milhão de partículas de vírus.

Evolução

Teriam os vírus evoluído de células vivas livres? Seriam eles produtos da evolução de alguma bactéria? Poderiam ser estes, componentes de células hospedeiras que se tornaram autônomos? Eles lembram genes que tenham adquirido a capacidade de existir independentemente da célula. Embora a virologia exista como ciência apenas há cerca de 100 anos, os vírus provavelmente têm estado presente nos organismos vivos desde a origem da vida. Se os vírus precederam ou surgiram somente após os organismos unicelulares, é uma questão controversa. Contudo, com base nas contínuas descobertas de vírus infectando diferentes espécies, pode-se concluir que, praticamente, todas as espécies deste planeta são infectadas por vírus. Os estudos tem sido limitados aos vírus isolados no presente ou de material de poucas décadas atrás. Infelizmente não existem fósseis dos vírus.


Estrutura


Os vírus são formados basicamente por um envoltório ou cápsula protéica, que abriga o material hereditário. Este pode ser tanto o ácido desoxirribonucléico (DNA) como o ácido ribonucléico (RNA). Esses dois ácidos nucléicos, no entanto, nunca ocorrem em um mesmo vírus. Existem, assim, vírus de DNA e vírus de RNA. Em todos os outros seres vivos, o ácido desoxirribonucléico e o ácido ribonucléico ocorrem juntos dentro das células, sendo o DNA o "portador" das informações genéticas e o RNA o "tradutor" dessas informações.
Formados por uma cápsula (capsídio) protéica + ácido nucléico: DNA ou RNA. O capsídio, além de proteger o ácido nucléico viral, tem a capacidade de se combinar quimicamente com substâncias presentes na superfície das células, o que permite ao vírus reconhecer e atacar o tipo de célula adequado a hospedá-lo.
A partícula viral, quando fora da célula hospedeira, é genericamente denominada vírion. Cada tipo de vírus possui uma forma característica, mas todos eles são extremamente pequenos, geralmente muito menores do que as menores bactérias conhecidas, sendo visíveis somente ao microscópio eletrônico. Os vírus apresentam uma grande variedade de forma e de tamanho. O diâmetro dos principais vírus oscila de 15-300 nm. O vírus da varíola é o maior vírus humano que se conhece (300x250x100 nm), enquanto que o da poliomielite é o menor vírus humano (20 nm de diâmetro). O vírus da febre aftosa, responsável por uma doença em gado, possui 15 nm, sendo portanto, menor que o poliovírus. Num só grupo, as medidas citadas por diferentes autores, podem variar consideravelmente. Isto se deve em parte, a certas diferenças nas técnicas empregadas.Vírus de diferentes famílias apresentam diferentes morfologias que podem ser prontamente distinguidas pelo microscópio eletrônico. Esta relação é útil para o diagnóstico de doenças virais e, especialmente para reconhecer novos vírus responsáveis por infecções. Alguns vírus tem formas parecidas, daí ser importante o uso da imunomicroscopia eletrônica. Um vírion pode se apresentar sob vários formatos: esférico (influenzavírus),de ladrilho (poxvírus),de bastão (vírus do mosaico do tabaco) e de projétil (vírus da raiva).

Figura de formas de Vírus. 1
Os vírus são extremamente simples e diferem dos seres vivos pela inexistência de organização celular, por não possuírem metabolismo próprio e por não serem capazes de se reproduzir, sendo replicados apenas no interior de uma célula hospedeira. São considerados parasitas intracelulares obrigatórios, e, em conseqüência disso, são responsáveis por várias doenças infecciosas.
As diferentes proteínas virais interagem de modo específico com proteínas expostas nas membranas celulares, determinando, assim, as células que são susceptíveis a certos vírus. O vírus da poliomielite, por exemplo, é altamente específico, infectando apenas células nervosas, intestinais e da mucosa da garganta. Já o vírus da rubéola e o vírus da varíola conseguem infectar maior número de tecidos humanos.
Existem vírus que infectam apenas bactérias, denominados bacteriófagos ou simplesmente fagos; os que infectam apenas fungos, denominados micófagos; os que infectam plantas, vírus de plantas e os que infectam animais denominados vírus de animais.
Vírus com DNA ou RNA
Quando o ácido nucléico é o DNA, ele é transcrito em várias moléculas de RNA ( pela bactéria ) que servirão de molde para a síntese de proteínas virais. É o caso do vírus da varíola, do herpes, do adenovírus (provoca infecções respiratórias), da hepatite B.
Quando o ácido nucléico é o RNA, dois processos podem ocorrer: O RNA viral é transcrito em várias moléculas de RNA mensageiro, que comandarão a síntese protéica. É o que ocorre com a maior parte dos vírus animais, como o vírus da raiva, da gripe; o vírus da poliomielite e de algumas encefalites têm o RNA que já funciona como RNA mensageiro. Nos vírus conhecidos como retrovírus, como é o caso do vírus da AIDS (HIV), o RNA é transcrito em DNA por uma enzima transcriptase reversa. A partir da ação dessa enzima, o RNA serve de molde a uma molécula de DNA, que penetra no núcleo da célula, e integra-se ao cromossomo do hospedeiro.
O DNA viral integrado ao cromossomo celular é chamado de provírus. Ele é reconhecido e transcrito pelas enzimas da célula hospedeira, de modo que logo começam a surgir moléculas de RNA com informações para síntese de transcriptase reversa e das proteínas do capsídeo. Algumas dessas moléculas de RNA são empacotadas juntamente com moléculas de transcriptase reversa, originando centenas de vírus completos (vírions). A infecção por retrovírus geralmente não leva à morte da célula hospedeira, e esta pode se dividir e transmitir o provírus integrado às células-filhas.

Retrovírus

Nem todo vírus de RNA é classificado como retrovírus, somente aqueles que usam o RNA como molde para síntese de DNA. Em 1980 foi isolado o primeiro retrovírus na espécie humana: o HTLV-1 - um retrovírus que infecta linfócitos T e causa um tipo de leucemia (câncer do sangue). Dois anos mais tarde, foi descoberto outro retrovírus, o HTLV-2, que causa outro tipo de leucemia. Em 1981 foi diagnosticado o primeiro caso de AIDS e somente em 1983 conseguiu-se provar que essa síndrome é causada por um novo tipo de retrovírus, que recebeu o nome de Vírus da Imunodeficiência Humana ou HIV .

Especificidade

Em geral, um tipo de vírus ataca um ou poucos tipos de célula. Isso porque um determinado tipo de vírus só consegue infectar uma célula que possua, na membrana, substâncias às quais ele possa se ligar. O vírus da Poliomielite, por exemplo, é altamente específico, infectando apenas células nervosas, intestinais e da mucosa da garganta. Já os vírus da Rubéola e da Varíola conseguem infectar maior número de tecidos humanos. Os vírus da Gripe são bastante versáteis e podem infectar diversos tipos de células humanas e também células de diferentes animais, como patos, cavalos e porcos. Em muitos casos, essa capacidade se deve ao fato de esses vírus conseguirem se ligar a substâncias presentes em células de diversos tipos de organismo.Os vírus, tanto de plantas como de animais, apresentam uma gama determinada de hospedeiros. Assim, o vírus da febre amarela urbana tem como hospedeiros somente o homem (transmissor: mosquito do gênero Aedes); o da febre amarela silvestre, o macaco e o homem (transmissor Haemogogus); o da Tristeza do Citrus, somente plantas cítricas; TWV pelo menos 74 espécies vegetais distribuídas em 14 famílias. Em vírus animais e especificidade vai até o nível histológico, servindo de base para classifica-los em vírus: vírus dermotrópicos (varíola, varicela, sarampo, rubéola, etc.), vírus pneumotrópicos (gripe, resfriado, etc.) vírus neurotrópicos (raiva, poliomielite, encefalites, etc.), vírus hepatotrópicos (febre-amarela, hepatite) e vírus linfo e glandulotrópicos (caxumba, linfogranuloma inguinal).

Propriedades

1. Tamanho: os vírus são menores que outros organismos, embora eles variem consideravelmente em tamanho - de 10 nm a 300 nm. As bactérias possuem aproximadamente 1000 nm e as hemácias 7500 nm de diâmetro.
2. Genoma: o genoma dos vírus pode ser formado de DNA ou RNA, nunca ambos (os vírus contém apenas um tipo de ácido nucléico).
3. Metabolismo: os vírus não possuem atividade metabólica fora da célula hospedeira; eles não possuem atividade ribossomal ou aparato para síntese de proteínas.
Desta forma, os vírus só são replicados dentro de células vivas. O ácido nucléico viral contém informações necessárias para programar a célula hospedeira infectada, de forma que esta passa a sintetizar várias macromoléculas vírus-específicas necessárias a produção da progênie viral. Fora da célula susceptível, as partículas virais são metabolicamente inertes. Estes agentes podem infectar células animais e vegetais, assim como microrganismos. Muitas vezes não produzem prejuízos aos hospedeiros, embora demonstrem efeitos visíveis.
Se os vírus são organismos vivos ou não é uma questão filosófica, para a qual alguns virologistas poderão responder que não. Embora os vírus possuam as principais características de um organismo celular, eles não possuem a maquinaria necessária para executar aspectos básicos do metabolismo, tais como a síntese de proteínas. Eles não são capazes de replicar-se fora da célula hospedeira. Ao invés disto, os genes virais são capazes de controlar o metabolismo celular e redirecioná-lo para a produção de produtos vírus-específicos.Os vírus, por outro lado, diferem de outros agentes como: toxinas, outros parasitas intracelulares obrigatórios e plasmídeos. As toxinas não são capazes de se multiplicar. O ciclo de infecção viral inclui um "período de eclipse" durante o qual não se detecta a presença do vírus, o que não ocorre com os outros parasitas intracelulares. Os plasmídeos (que são moléculas de DNA capazes de se replicar em células independentemente do DNA celular) não apresentam as estruturas protetoras, que nos vírus impedem a degradação do ácido nucléico genômico.Uma grande contribuição para a virologia foi a descoberta de que os vírus podem ser cristalizados. Quando o químico-orgânico Wendell M. Stanley cristalizou o vírus do Mosaico do Tabaco (VMT) em 1935, forneceu um poderoso argumento para que se pudesse pensar nos vírus como estruturas químicas simples, consistindo somente de proteína e ácido nucléico. Desta forma, se pensarmos nos vírus fora das células, podemos considerá-los como estruturas moleculares excepcionalmente complexas. No interior das células, a informação levada pelo genoma viral, faz com que a célula infectada produza novos vírus, levando-nos a pensar nos vírus como organismos excepcionalmente simples.
Os vírus são constituídos de dois componentes essenciais: a parte central recebe o nome de cerne, onde se encontra o genoma, que pode ser DNA ou RNA, associado com uma capa protéica denominada capsídeo, formando ambos o nucleocapsídeo. O vírion constitui a última fase de desenvolvimento do vírus, ou seja, a partícula infectante madura. Em alguns grupos (poliovírus, adenovírus), os vírions consistem unicamente de nucleocapsídeo. Em outros grupos (mixovírus, herpesvírus, poxvírus), os virions são constituídos de nucleocapsídeo rodeado por uma ou mais membranas lipoprotéicas (o envelope). Muitos vírus adquirem seus envelopes por brotamento através de uma membrana celular apropriada (membrana plasmática em muitos casos, retículo endoplasmático, golgi ou membrana nuclear). O envelope é uma característica comum nos vírus de animais, porém incomum nos vírus de plantas.



Replicação


Existem basicamente dois tipos de ciclos replicativos: o ciclo lítico e o ciclo lisogênico. Para exemplificar, utilizaremos o ciclo replicativo dos bacteriófagos.
Esses dois ciclos iniciam-se, por exemplo, com o fago T4 aderindo à superfície da célula bacteriana, utilizando as fibras protéicas da cauda. O DNA do vírus é, então, injetado para o interior da bactéria, ficando fora da célula a cápsula protéica vazia. A partir desse momento, começa a diferenciação entre o ciclo lítico e ciclo lisogênico.
A maior parte dos vírus, ao infectar uma célula animal, penetra com o capsídeo e o ácido nucléico, por um processo de viropexia. Se o vírus for envelopado, o envoltório pode incorporar-se à membrana plasmática da célula hospedeira e apenas o núcleo capsídeo penetra, ou mesmo, pode penetrar com todas as suas estruturas por viropexia. No interior dessa célula, o capsídeo rompe-se, liberando o ácido nucléico.
Ciclo Lítico
No ciclo lítico, o DNA viral, já no interior da bactéria, interrompe as funções normais da célula hospedeira e passa a comandar o seu metabolismo. Os genes do bacteriófago são transcritos em moléculas de RNA e traduzidos em proteínas virais. Isso ocorre porque as enzimas de transcrição e tradução da bactéria não distinguem os genes do invasor de seus próprios genes.
As primeiras proteínas virais que se formam são enzimas capazes de multiplicar o DNA viral ou inibir o funcionamento do cromossomo bacteriano. O passo seguinte é a produção das proteínas que constituirão as cabeças e caudas dos novos vírus, para depois se agregarem ao DNA, formando vírus completos.
Cerca de 30 minutos após a entrada de um único fago invasor na célula bacteriana, cerca de 200 novos bacteriófagos são produzidos. Nesse momento inicia-se a lise, ou seja, a ruptura da célula bacteriana, e os novos bacteriófagos são libertados, podendo infectar outras bactérias e iniciar outro ciclo. Em vírus humanos e de animais, a produção maciça de vírus provoca um esgotamento da célula, favorecendo a lise celular. A célula produz grande quantidade de vírus e fica sem poder compor suas próprias estruturas.
Os vírus que apresentam o ciclo lítico são chamados de virulentos ou vírus líticos.
Ciclo Lisogênico
No ciclo lisogênico, o DNA viral penetra na célula da bactéria e se incorpora ao DNA bacteriano, não interferindo no metabolismo da célula hospedeira. Essas bactérias são denominadas lisogênicas e esses vírus são denominados temperados ou não-virulentos.
Nesses casos, a bactéria se reproduz normalmente e, a cada divisão da célula bacteriana, o DNA viral vai sendo transmitido às novas bactérias, sem se manifestar.
De acordo com determinadas condições, naturais ou artificias (como radiações ultravioleta, raios X ou certos agentes químicos), o DNA do fago separa-se do DNA bacteriano e inicia-se o ciclo lítico.
Esquema do ciclo lítico e do ciclo lisogênico de um vírus
A Liberação do vírus
A liberação do vírus pode ocorrer por esgotamento celular, havendo o rompimento da célula, como se a célula fosse desintegrando (é o caso da pólio ou dos bacteriófagos).
Ou pode ocorrer de forma lenta, em que o vírus leva uma porção da membrana da célula que irá constituir o envelope. Este é adquirido através de um processo conhecido como "brotamento" (uma forma de exocitose), nesta membrana o vírus agrega proteínas (espículas) por ele codificado, e que terá o papel de adsorver às células hospedeiras.


Virose

O que diferencia os vírus de todos os outros seres vivos é que eles são acelulares, ou seja, não possuem estrutura celular. Assim, não têm a complexa maquinaria bioquímica necessária para fazer funcionar seu programa genético e precisam de células que os hospedem. Todos os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios. Atuando como um "pirata" celular, um vírus invade uma célula e assume o comando, fazendo com que ela trabalhe quase que exclusivamente para produzir novos vírus. A infecção viral geralmente causa profundas alterações no metabolismo celular, podendo levar à morte das células infectadas. Vírus causam doenças em plantas e em animais, incluindo o homem. Fora da célula hospedeira, os vírus não manifestam nenhuma atividade vital: não crescem, não degradam nem fabricam substâncias e não reagem a estímulos. No entanto, se houver células hospedeiras compatíveis à sua disposição, um único vírus é capaz de originar em cerca de 20 minutos, centenas de novos vírus.

Bacteriófago

É um vírus muito estudado, pode ser vírus de DNA ou de RNA. São formados apenas pelo núcleo capsídeo, ou seja, não existem formas envelopadas. Os mais estudados são os que infectam a bactéria intestinal Escherichia coli, conhecidos como Bacteriófago ou fagos T2 e T4. Estes são constituídos por uma cápsula protéica bastante complexa, que apresenta uma região denominada cabeça, com formato poligonal, onde se aloja o ácido nucléico, e uma região denominada cauda, com formato cilíndrico, contendo, em sua extremidade livre, fibras protéicas. Quando o bacteriófagos entra em contato com a bactéria, adere à parede celular por meio de certas proteínas presentes nas fibras de sua cauda. Na cauda estão também presentes enzimas que, ativada após o reconhecimento molecular, são capazes de digerir e perfurar a parede da célula bacteriana.

Varíola

Transmissão: gotículas de saliva, contato direto, objetos contaminados (copos, garfos etc).
Modo de infecção: o vírus penetra pelas mucosas das vias respiratórias, dissemina-se pela corrente circulatória e instala-se na pele e mucosas, causando as ulcerações da doença.
Sintomas : As primeiras manifestações da varíola são febre, dor de cabeça, moleza, dores lombares, dor nas pernas e vômitos. Passada essa fase, começa a erupção cutânea, à primeira vista semelhante à da catapora. As erupções surgem na cabeça e vão descendo pelo resto do corpo; inicialmente, são manchas, em seguida transformam-se em vesículas de tamanho irregular e cheias de pus. Depois de secas, as vesículas ficam se cobertas por ima crosta que cai dentro de 10 dias, deixando cicatrizes profundas.
Controle (profilaxia): Aplicação de vacina antivariólica a partir dos 8 meses de idade. Apesar de ainda constar como compulsória, a vacinação antivariólica já não é realizada com regularidade, pois a doença é considerada erradicada. Na eventualidade de surgir algum caso ou suspeita de contágio, há tempo para se fazer a vacina protetora.


Febre Amarela

Transmissão: através da picada do mosquito Aedes aegypti, que se contamina ao picar um homem ou outro mamífero contaminado. A febre amarela é uma enfermidade infeciosa e epidêmica produzida por um vírus filtrável e transmitida ao homem pelo mosquito Aedes aegypti. Caracterizada por uma evolução em duas fases: - A primeira, congestiva e a Segunda, ictérica e hemorrágica, separadas por uma fase de remissão.Conhece-se perfeitamente como se transmite essa enfermidade, desde as pesquisas da Comissão Norte-americana que atuou em Cuba, presidida por Walter Reed, as quais demonstram o seguinte:1) A fêmea do mosquito Aedes aegypti é a que transmite a febre amarela, se previamente houver sugado o sangue de um enfermo dessa febre durante os três primeiros dias da enfermidade.2) Depois de picar, necessita o mosquito de 12 dias até torna-se infetante. Fica depois infetante até morrer.
Modo de infecção: o vírus é introduzido juntamente com a saliva do mosquito; dissemina-se pelo corpo através do sangue e instala-se no fígado, baço, rins, medula óssea e gânglios linfáticos.
Controle (profilaxia): vacinação com linhagem de vírus atenuada (vírus vivos). Eliminação do mosquito Aedes, vetor da doença.

Sarampo

Transmissão: gotículas de saliva. Doença infecciosa própria da infância, causada por um vírus transmitido por contato com o doente ou por objetos contaminados. No Brasil, os surtos de sarampo ocorrem principalmente de agosto a novembro. Ataca principalmente as crianças entre 6 meses e 6 anos de idade, embora também possa ser contraída por adultos. A pessoa que já teve sarampo fica imunizada, e a imunidade é transmitida pela mãe ao bebê até os 4 ou 6 meses de idade, principalmente se ele receber leite materno. O período de contágio vai de 5 dias antes até 5 dias depois do aparecimento da erupção característica. O período de incubação é, em média, de 10 dias, podendo variar de 9 a 14 dias.
Modo de infecção: o vírus penetra pela mucosa das vias respiratórias, cai na corrente sangüínea e se dissemina por diversas partes do corpo.
Sintomas : Os primeiros sintomas do sarampo são semelhantes aos de uma gripe: durante 4 ou 5 dias, a criança tem febre alta, tosse, mal-estar e fica com os olhos vermelhos. O diagnóstico só é possível ao se encontrar na boca, na altura do segundo molar, uma série de manchinhas brancas (manchas de Koplik) e manchas vermelhas irregulares na abóboda palatina e na garganta (exantema). Depois desses sintomas, as manchas vermelhas (exantemas) surgem atrás da orelha, espalhando-se em seguida pelo rosto, pescoço, tronco e membros. Com o aparecimento da erupção costumam se atenuar os sintomas anteriores, embora persistam a tose e a irritação dos olhos, que ficam muito sensível à luz. Durante toda a doença, há acentuada queda do apetite e mal-estar geral. As manchas começam a sumir 5 dias depois da primeira erupção, na ordem em que aparecem.
Controle (profilaxia): vacinação com vírus vivo de linhagem atenuada.


Poliomielite

Transmissão: "incerta ". Também conhecida como paralisia infantil, é uma doença infecciosa provocada por vírus. Ataca principalmente crianças entre 6 meses e 4 anos de idade. Trata-se de moléstia grave e altamente contagiosa. As epidemias costumam ocorrer no verão e no início do outono.

Sintomas : Os primeiros sinais da poliomielite são os comuns a todas as infecções: prostração, febre e dor de cabeça. podem aparecer também vômitos, prisão de ventre ou diarréia leve, dores nas pernas e vermelhidão na garganta. O sintoma característico da doença, contudo, é a dificuldade da criança de colocar a testa no joelho ou de dobrar a cabeça a ponto de colocar o queixo no peito.

Modo de infecção: acredita-se que o vírus penetre pela boca e se multiplique primeiro na garganta e nos intestinos. Daí dissemina-se pelo corpo, através do sangue. Se atingir células nervosas ele as destrói, o que causa paralisia e atrofia da musculatura esquelética, geralmente das pernas.


Controle (profilaxia): Existe um meio absolutamente seguro de livrar as crianças da poliomielite: a vacina Sabin, aplicada a partir dos 2 meses de idade. Em casos de epidemia, não há razão de preocupação se a criança já recebeu todas as doses da vacina ou se foi vacinada nos últimos 2 ou 3 meses. No entanto, se não recebeu todas as doses ou se recebeu a última dose há mais de 3 meses, deve receber logo uma dose de reforço. (vacina Salk = injeção) ou com vírus vivo atenuado (vacina Sabin = gotas).


Caxumba

Transmissão: gotículas de saliva, contato direto, objetos contaminados (copos, garfos etc).
Sintomas:O período de incubação habitual é de 17 a 21 dias, mais pode variar de 7 a 30 dias.Antes aparecem os sintomas característicos da enfermidade pode, às vezes, notar-se ligeira febre, inapetência e abatimento.O que permite diagnosticar a enfermidade, é a inchação e a dor que se produzem em uma e depois nas duas glândulas parótidas, situadas abaixo e também um pouco adiante e atrás das orelhas, o que da o aspecto característico. Ao examinar na face interna da bochecha o ponto em que desemboca o canal de Stenon, que é o que leva a saliva, da parótida à boca, observa-se que essa saliência é avermelhada. A quantidade de saliva , da parótida pode estar diminuída ou aumentada. Às vezes a inflamação pode atingir outras glândulas salivares tais como submaxilares e sublinguais.
Modo de infecção: o vírus ataca normalmente as glândulas salivares parótidas, podendo, entretanto, localizar-se nos testículos, ovários, pâncreas e cérebro.
Controle (profilaxia): vacinação.


É mito a idéia de que a caxumba é mais perigosa para os meninos do que para as meninas. Ela realmente pode “descer”, como se diz, porém a probabilidade é igual para os dois sexos. É raro acontecer, mas ela pode dar origem a uma inflamação do testículo (orquite) ou dos ovários (ooforite). “Quando isso ocorre, nos meninos, o testículo dói e pode aumentar de tamanho; as meninas sentem dor abdominal”, explica Ricardo Chaves. Essa inflamação, em raríssimas ocasiões e dependendo da intensidade, pode levar à esterilidade. “É muito incomum, mas quando isso acontece, só é descoberto quando a pessoa atinge a idade reprodutiva”, afirma o pediatra.

Raiva

Transmissão: pela mordedura de animal infectado, geralmente o cão ou morcego.
Modo de infecção: o vírus penetra pelo ferimento da mordedura juntamente com a saliva do cão. Atinge o sistema nervoso central, onde se multiplica, causando danos irreparáveis ao sistema nervoso.
Controle (profilaxia): Tão logo seja mordida ou lambida por um animal infectado, a criança deve ser vacinada ou receber soro anti-rábico. Ainda em casa, a mãe pode tentar matar o vírus, lavando o local da mordida com sabão e álcool - mas em seguida deve levar ao médico. Vacinação dos cães, eliminação dos cães de rua, vacinação de pessoas mordidas por cães desconhecidos ou com suspeita de portar a doença.

Encefalites Virais

Transmissão: picada de mosquitos e de carrapatos.
Modo de infecção: o vírus é introduzido na corrente sangüínea pela picada do artrópodo portador. Atinge as células do cérebro,onde se reproduz.
Controle (profilaxia): combate aos artrópodos vetores. Não existem vacinas.

Rubéola

Transmissão: O contágio é feito pela respiração do ar contaminado por vírus, e se dá de 7 dias antes a 5 dias depois do aparecimento de manchas vermelhas na pele. O período de incubação da doença é de 16 a 18 dias.
Modo de infecção: inicia-se com fracas dores de cabeça, febre baixa, aumento das glândulas do pescoço, ocorrendo, em seguida, o exantema com manchas vermelhas por todo o corpo. Em geral é doença benigna da infância. Pode ser muito grave em gestantes nos primeiros meses.
Sintomas : A forma mais leve de rubéola provoca erupções avermelhadas na pele, que desaparecem depois de 2 ou 3 dias, sem qualquer outro sintoma. Em outros casos, a erupção é mais intensa e precedida por febre, mal-estar, aumento dos gânglios localizados atrás das orelhas e na nuca e eventualmente tosse, sendo fácil confundir a doença com sarampo.
Controle (profilaxia): A vacina contra rubéola oferece bom grau de proteção. As meninas devem recebê-la obrigatoriamente antes da adolescência, para evitar riscos numa futura gravidez.

Gripe

Transmissão: Transmitida por contato direto através do aparelho respiratório e com período de incubação de 36 a 48 horas, a gripe (ou influenza) é causada por vírus de vários tipos. Muitas vezes confundido com resfriado (cujo vírus causador é diferente), ela é pouco freqüente em crianças menores de cinco anos. Os efeitos, diferentes e mais intensos do que os do resfriado, costumam se manifestar por períodos que duram de 4 a 10 dias.
Modo de infecção: o vírus ataca os tecidos das porções superiores do aparelho respiratório; raramente atinge os pulmões.
Controle (profilaxia): Não existe remédio eficaz para a doença, a não ser algumas medidas que evitam complicações maiores e aliviam alguns dos efeitos. Os antibióticos são inócuos, mas os antitérmicos podem baixar a febre e os xaropes facilitam a tosse. Convém manter a criança no leito a fim de que não manifestem conseqüências como otite, sinusite e pneumonia, entre outras.

Hepatite Infecciosa

Transmissão: contaminação de água e objetos por fezes de indivíduos contaminados. "Supõe-se" que moscas transportem o vírus de fezes contaminadas para alimentos, água e objetos.
Modo de infecção: o vírus se multiplica no fígado, causando destruição de células hepáticas.
Controle (profilaxia): medidas de saneamento; fiscalização dos manipuladores de alimentos. A injeção de gamaglobulina, extraída de soro sangüíneo humano, pode conferir proteção temporária.

Herpes

Transmissão: contato direto com herpéticos na fase de manifestação da doença.
Beijo - É uma forma de contágio fácil, mesmo que a pessoa não tenha nenhuma ferida aparente, pode ser portadora do vírus, o que é suficiente para infectar o outro, mas não significa que a doença irá se manifestar.
Copo - Beber água no mesmo copo de uma pessoa portadora do vírus também facilita o contágio. A pessoa também pode se contaminar apenas estando em um ambiente onde há alguém com o vírus.
Sol - A radiação dos raios ultra-violeta (UVA e UVB) agem bloqueando a ação das células de defesa do organismo e reduzindo a proteção imunológica. Estresse, fadiga, cigarro, bebida alcólica em excesso e menstruação também baixam a resistência imunológica
Modo de infecção: o tipo I, mais freqüente, desenvolve lesões na pele e na boca; o tipo II ou herpes genital é DST. Nos dois surgem pequenas bolhas, que se ulceram, havendo a seguir a cicatrização da pele, sem dar sinal da manifestação do vírus. Estes podem ficar latentes por muito tempo, até voltarem a se manifestar.
Controle (profilaxia): evitar contato direto com herpéticos em fase de manifestação da doença. Produtos capazes de abortar a manifestação herpética, quando ingeridos aos primeiros sinais de uma possível infecção.

Dengue

Transmissão: picada do Aedes aegypti, durante o dia.
Modo de infecção: forma benigna e forma hemorrágica, a qual pode levar à morte. Dores de cabeça e nas juntas, fraqueza, falta de apetite, febre e pele manchada. Nunca se deve tomar medicamentos que contenham ácido acetilsalicílico.
Controle (profilaxia) Não há, pois seria necessário evitar a picada dos mosquitos
Febre hemorrágica: Em função da inflamação dos vasos (por causa da instalação dos vírus no tecido que os envolve), há um consumo exagerado de plaquetas, pequenos soldados que trabalham contra as doenças. A falta de plaquetas interfere na homeostase do corpo - capacidade de controlar espontaneamente o fluxo de sangue. O organismo passa a apresentar uma forte tendência a ter hemorragias. Pode ocorrer:
1 - Se a pessoa tem dengue pela segunda vez (outro tipo de vírus), pode contrair a hemorrágica.
2 - Há quatro sorotipos diferentes de dengue. Um deles, o den2, é o mais intenso. Este tipo pode evoluir para a dengue hemorrágica.
3 - Combinação da seqüência de doença, da força do vírus e da suscetibilidade da pessoa. Se for alguém com Aids, por exemplo, a doença oferece mais riscos





VÍRUS DA AIDS (HIV)

INTRODUÇÃO
A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) foi reconhecida em meados de 1981, nos EUA, a partir da identificação de um número elevado de pacientes adultos do sexo masculino, homossexuais e moradores de São Francisco ou Nova York, que apresentavam sarcoma de Kaposi, pneumonia por Pneumocystis carinii e comprometimento do sistema imune, o que levou à conclusão de que se tratava de uma nova doença, ainda não classificada, de etiologia provavelmente infecciosa e transmissível.
Vírus HIV - Vírus da Imunodeficiência Humana
Em 1983, o HIV-1 foi isolado de pacientes com AIDS pelos pesquisadores Luc Montaigner, na França, e Robert Gallo, nos EUA, recebendo os nomes de LAV (Lymphadenopathy Associated Virus ou Virus Associado à Linfadenopatia) e HTLV-III (Human T-Lymphotrophic Virus ou Vírus T-Linfotrópico Humano tipo lll) respectivamente nos dois países. Em 1986, foi identificado um segundo agente etiológico, também retrovírus, com características semelhantes ao HIV-1, denominado HIV-2. Nesse mesmo ano, um comitê internacional recomendou o termo HIV (Human Immunodeficiency Virus ou Vírus da Imunodeficiência Humana) para denominá-lo, reconhecendo-o como capaz de infectar seres humanos.
O HIV é um retrovírus com genoma RNA, da família Lentiviridae. Pertence ao grupo dos retrovírus citopáticos e não-oncogênicos que necessitam, para multiplicar-se, de uma enzima denominada transcriptase reversa, responsável pela transcrição do RNA viral para uma cópia DNA, que pode, então, integrar-se ao genoma do hospedeiro.
Embora não se saiba ao certo qual a origem do HIV-1 e 2 , sabe-se que uma grande família de retrovírus relacionados a eles está presente em primatas não-humanos, na África sub-Sahariana. Todos os membros desta família de retrovírus possuem estrutura genômica semelhante, apresentando homologia em torno de 50%. Além disso, todos têm a capacidade de infectar linfócitos através do receptor CD4. Aparentemente, o HIV-1 e o HIV-2 passaram a infectar o homem há poucas décadas; alguns trabalhos científicos recentes sugerem que isso tenha ocorrido entre os anos 40 e 50. Numerosos retrovírus de primatas não-humanos encontrados na África têm apresentado grande similaridade com o HIV-1 e com o HIV-2. O vírus da imunodeficiência símia (SIV), que infecta uma subespécie de chimpanzés africanos, é 98% similar ao HIV-1, sugerindo que ambos evoluíram de uma origem comum. Por esses fatos, supõe-se que o HIV tenha origem africana. Ademais, diversos estudos sorológicos realizados na África, utilizando amostras de soro armazenadas desde as décadas de 50 e 60, reforçam essa hipótese.
O HIV é bastante lábil no meio externo, sendo inativado por uma variedade de agentes físicos (calor) e químicos (hipoclorito de sódio, glutaraldeído). Em condições experimentais controladas, as partículas virais intracelulares parecem sobreviver no meio externo por até, no máximo, um dia, enquanto que partículas virais livres podem sobreviver por 15 dias, à temperatura ambiente, ou até 11 dias, a 37ºC.
Recentemente, têm sido descritas, ainda, variantes genômicas (subtipos), tanto de HIV-1 quanto de HIV-2, em pacientes infectados procedentes de diferentes regiões geográficas. Classificam-se, assim, os isolados de HIV-1 em dois grupos, M (major) e O (outlier), com variabilidade genética de até 30%. No grupo M, identificam-se nove subtipos (A, B, C, D, E, F, G, H e I), e no grupo O, apenas um. Em relação ao HIV-2 descrevem-se cinco subtipos: A, B, C, D, e E. Embora ainda não conhecida, especula-se a possibilidade de variantes virais possuírem diferentes índices de transmissibilidade e/ou patogenicidade.
Há dois tipos de HIV: HIV-1, que mostrou ser a causa principal da AIDS, e HIV-2, que também pode causar a doença.
O vírus HIV é um retrovírus envelopado, possui duas moléculas de RNA, que estão dispostas no interior do capsídeo. Esse conjunto é envolto por mais uma camada protéica, formando uma estrutura denominada core. Envolvendo o core, existe o envelope, composto por uma camada dupla de fosfolipídios, na qual estão imersas várias moléculas protéicas específicas desse vírus. Na face interna da camada de lipídios, prendem-se várias outras moléculas protéicas.
No interior do vírus, existem moléculas da enzima transcriptase reversa, que permitem ao vírus fazer uma molécula de DNA a partir da molécula de RNA viral (a transcriptase reversa ocorre não só no vírus da AIDS, mas em todos os demais membros da família Retroviridae).
Esquema do vírus HIV
Ciclo vital do HIV na célula humana.
ligação de glicoproteínas virais (gp120) ao receptor específico da superfície celular (principalmente linfócitos T-CD4); fusão do envelope do vírus com a membrana da célula hospedeira; liberação do "core" do vírus para o citoplasma da célula hospedeira; transcrição do RNA viral em DNA complementar, dependente da enzima transcriptase reversa; transporte do DNA complementar para o núcleo da célula, onde pode haver integração no genoma celular (provírus), dependente da enzima integrase, ou a permanência em forma circular, isoladamente; o provírus é reativado, e produz RNA mensageiro viral, indo para o citoplasma da célula; proteínas virais são produzidas e quebradas em subunidades, por intermédio da enzima protease; as proteínas virais produzidas regulam a síntese de novos genomas virais, e formam a estrutura externa de outros vírus que serão liberados pela célula hospedeira; e o vírion recém-formado é liberado para o meio circundante da célula hospedeira, podendo permanecer no fluído extracelular, ou infectar novas células. A interferência em qualquer um destes passos do ciclo vital do vírus impediria a multiplicação e/ou a liberação de novos vírus. Atualmente estão disponíveis comercialmente drogas que interferem em duas fases deste ciclo: a fase 4 (inibidores da transcriptase reversa) e a fase 7 (inibidores da protease).
Células infectadas pelo o vírus HIV
O primeiro estágio de qualquer infecção viral é a adsorção do vírus a receptores da membrana plasmática da célula susceptível.
Sabe-se que a afinidade com as células hospedeiras depende das proteínas virais. Estas têm afinidade somente com determinadas proteínas presentes na membrana plasmática das células-alvo. No caso do vírus da AIDS, as moléculas protéicas de seu envelope têm grande afinidade com uma proteína denominada CD-4, presente na membrana plasmática de algumas células do corpo humano. Essas células são, principalmente, os linfócitos T e os macrófagos. Um indivíduo com AIDS tem redução no número de linfócitos T, pois o HIV os destrói, causando uma queda bastante acentuada de sua imunidade, ficando o indivíduo suscetível a diversas infecções oportunistas. Já os macrófagos atuam como reservatórios desse vírus, disseminando este vírus pela corrente sangüínea para diferentes órgãos do corpo, como o cérebro e os pulmões.
Recentemente, verificou-se que não são apenas essas as células que contêm a proteína CD-4 na membrana plasmática, e, portanto, são passíveis de infecção pelo HIV. A proteína CD-4 ocorre também nos monócitos do sangue, nos linfócitos B, em alguns tipos celulares dos nódulos linfáticos, no timo, pele, encéfalo, medula óssea vermelha e intestinos. Os linfócitos presentes no sêmen e no fluido vaginal também podem ser infectados pelo HIV.
Esquema do vírus HIV atacando um linfócito T e, posteriormente, saindo do linfócito.
FORMAS DE TRANSMISSÃO
As principais formas de transmissão do HIV são: sexual; sangüínea (em receptores de sangue ou hemoderivados e em usuários de drogas injetáveis, ou UDI); e vertical (da mãe para o filho, durante a gestação, parto ou por aleitamento). Além dessas formas, mais freqüentes, também pode ocorrer a transmissão ocupacional, ocasionada por acidente de trabalho, em profissionais da área da saúde que sofrem ferimentos com instrumentos pérfuro-cortantes contaminados com sangue de pacientes infectados pelo HIV.
Sexual
A principal forma de exposição em todo o mundo é a sexual, sendo que a transmissão heterossexual, nas relações sem o uso de preservativo é considerada pela OMS como a mais freqüente. Na África sub-Sahariana, é a principal forma de transmissão. Nos países desenvolvidos, a exposição ao HIV por relações homossexuais ainda é a responsável pelo maior número de casos, embora as relações heterossexuais estejam aumentando proporcionalmente como uma tendência na dinâmica da epidemia. Os fatores que aumentam o risco de transmissão do HIV em uma relação heterossexual são: alta viremia, imunodeficiência avançada, relação anal receptiva, relação sexual durante a menstruação e presença de outra DST, principalmente as ulcerativas. Sabe-se hoje que as úlceras resultantes de infecções sexualmente transmissíveis como cancro mole, sífilis e herpes genital, aumentam muito o risco de transmissão do HIV.
Sangüínea
A transmissão sangüínea associada ao uso de drogas injetáveis é um meio muito eficaz de transmissão do HIV, devido ao uso compartilhado de seringas e agulhas. Essa via de transmissão adquire importância crescente em várias partes do mundo, como na Ásia, América Latina e no Caribe.
A transmissão mediante transfusão de sangue e derivados é cada vez menos relevante nos países industrializados e naqueles que adotaram medidas de controle da qualidade do sangue utilizado, como é o caso do Brasil.
Vertical
A transmissão vertical, decorrente da exposição da criança durante a gestação, parto ou aleitamento materno, vem aumentando devido à maior transmissão heterossexual. Na África, são encontradas as maiores taxas desta forma de infecção pelo HIV, da ordem de 30 a 40%; entretanto, em outras partes do mundo, como na América do Norte e Europa, situam-se em torno de 15 a 29%. Os principais motivos dessa diferença devem-se ao fato de que, na África, a transmissão heterossexual é mais intensa, e que neste continente, o aleitamento materno é muito mais freqüente do que nos países industrializados.
A transmissão intra-uterina é possível em qualquer fase da gravidez; porém é menos freqüente no primeiro trimestre. As infecções ocorridas nesse período não têm sido associadas a malformações fetais. O risco de transmissão do HIV da mãe para o filho pode ser reduzido em até 67% com o uso de AZT durante a gravidez e no momento do parto, associado à administração da mesma droga ao recém-nascido por seis semanas. Um estudo realizado nos Estados Unidos (Aids Clinical Trial Group 076 ou ACTG-076) demonstrou redução na transmissão vertical de 25,6% para 8,3% com o uso de AZT durante a gravidez. A transmissão pelo leite materno é evitada com o uso de leite artificial ou de leite humano processado em bancos de leite, que fazem aconselhamento e triagem das doadoras.
Ocupacional
A transmissão ocupacional ocorre quando profissionais da área da saúde sofrem ferimentos com instrumentos pérfuro-cortantes contaminados com sangue de pacientes portadores do HIV. Estima-se que o risco médio de contrair o HIV após uma exposição percutânea a sangue contaminado seja de aproximadamente 0,3%. Nos caso de exposição de mucosas, esse risco é de aproximadamente 0,1%. Os fatores de risco já identificados como favorecedores deste tipo de contaminação são: a profundidade e extensão do ferimento a presença de sangue visível no instrumento que produziu o ferimento, o procedimento que resultou na exposição e que envolveu a colocação da agulha diretamente na veia ou artéria de paciente portador de HIV e, finalmente, o paciente fonte da infecção mostrar evidências de imunodeficiência avançada, ser terminal ou apresentar carga viral elevada.
Outras possíveis formas de transmissão
Embora o vírus tenha sido isolado de vários fluidos corporais, como saliva, urina, lágrimas, somente o contato com sangue, sêmen, secreções genitais e leite materno têm sido implicados como fontes de infecção.
O risco da transmissão do HIV por saliva foi avaliado em vários estudos laboratoriais e epidemiológicos. Esses estudos demonstraram que a concentração e a infectividade dos vírus da saliva de indivíduos portadores do HIV é extremamente baixa.
Até o momento, não foi possível evidenciar, com segurança, nenhum caso de infecção por HIV adquirido por qualquer das seguintes vias teóricas de transmissão: contato interpessoal não-sexual e não-percutâneo (contato casual), vetores artrópodes (picadas de insetos), fontes ambientais (aerossóis, por exemplo) e objetos inanimados (fômites), além de instalações sanitárias. Há raros relatos anedóticos de hipotética transmissão horizontal do HIV; porém, estes não resistem a uma análise mais cuidadosa, e as evidências são insuficientes para caracterizar formas não-tradicionais de transmissão.
Dados laboratoriais e epidemiológicos não provêm qualquer suporte à possibilidade teórica de transmissão por artrópodes atuando como vetores biológicos ou mecânicos. Não foi possível evidenciar qualquer multiplicação do HIV em artrópodes após inoculação intra-abdominal, intratorácica ou após repasto de sangue infectado. Outros estudos demonstraram ausência de replicação do HIV em linhagens celulares derivadas de artrópodes. Estudos epidemiológicos nos Estados Unidos, Haiti e África Central não demonstraram qualquer evidência de transmissão por vetores.
Conclui-se que formas alternativas de transmissão são altamente improváveis, e que a experiência cumulativa é suficientemente ampla para se assegurar enfaticamente que não há qualquer justificativa para restringir a participação de indivíduos infectados nos seus ambientes domésticos, escolares, sociais ou profissionais.
PREVENÇÃO E CONTROLE
As principais estratégias de prevenção empregadas pelos programas de controle envolvem: a promoção do uso de preservativos, a promoção do uso de agulhas e seringas esterilizadas ou descartáveis, o controle do sangue e derivados, a adoção de cuidados na exposição ocupacional a material biológico e o manejo adequado das outras DST.
Preservativos
Os preservativos masculinos e femininos são a única barreira comprovadamente efetiva contra o HIV, e o uso correto e consistente deste método pode reduzir substancialmente o risco de transmissão do HIV e das outras DST.
O uso regular de preservativos pode levar ao aperfeiçoamento na sua técnica de utilização, reduzindo a freqüência de ruptura e escape e, consequentemente, aumentando sua eficácia. Estudos recentes demonstraram que o uso correto e sistemático do preservativo masculino reduz o risco de aquisição do HIV e outras DST em até 95%.
Espermicidas
Os produtos espermicidas à base de nonoxinol-9 são capazes de inativar o HIV e agentes de outras DST "in vitro", e poderiam ter um papel importante na redução da transmissão sexual do HIV, se usados em associação com os preservativos. Estudos recentes sugerem que a concentração de nonoxinol-9, normalmente preconizada nos preservativos, seria insuficiente para inativar o HIV, sendo que o uso de concentrações mais elevadas poderiam apresentar toxicidade. Entretanto, a segurança e eficácia dos espermicidas atualmente disponíveis, nas condições de uso corrente, não estão bem estabelecidas, e mais estudos clínicos controlados são necessários para esta determinação.
Prevenção em usuários de drogas injetáveis (UDI)
Desde 1986, ficou claro que os UDI representavam um grupo focal particularmente importante, devido ao risco específico de ocorrência de epidemias de HIV nesta população, e ao potencial de representarem a interface através da qual a infecção por HIV se difundiria para a população heterossexual não usuária de drogas e consequentemente para as crianças.
A disseminação da infecção pelo HIV entre UDI em muitos países com características diferentes, levantou importantes questões sobre a natureza do comportamento dos dependentes, e da possibilidade de modificá-lo mediante intervenções preventivas, de modo a reduzir a transmissão do HIV.
Houve ceticismo inicial acerca da eficácia de ações educativas nessa população. O temor de que a estratégia de redução de danos, baseadas na facilitação do acesso a equipamento estéril de injeções pudesse levar ao aumento da população de usuários de drogas injetáveis, não se concretizou.
Há atualmente evidências suficientes para concluir que foi possível reduzir o nível epidêmico da transmissão do HIV em locais onde programas inovadores de saúde pública foram iniciados precocemente. Os elementos desses programas de prevenção incluem orientação educativa, disponibilidade de testes sorológicos, facilitação de acesso aos serviços de tratamento da dependência de drogas, acesso a equipamento estéril de injeção, além de ações que se desenvolvem na comunidade de usuários de drogas a partir da intervenção de profissionais de saúde e/ou agente comunitários, recrutados na própria comunidade.
Em relação às mudanças comportamentais, demonstrou-se que os UDI podem ser sensíveis às ações preventivas e capazes de reduzir a freqüência das situações de risco. Porém, se todos os estudos demonstram redução de risco, evidenciam, infelizmente, a persistência de níveis importantes do comportamento de risco, mesmo nas cidades onde se obteve razoável impacto com as ações preventivas.
Exposição ocupacional
Embora alguns tipos de exposição acidental, como o contato de sangue ou secreções com mucosas ou pele íntegra teoricamente possam ser responsáveis por infecção pelo HIV, os seus riscos são insignificantes quando comparados com a exposição percutânea, através de instrumentos pérfuro-cortantes.
Fatores como prevalência da infecção pelo HIV na população de pacientes, grau de experiência dos profissionais de saúde no cuidado desse tipo de paciente, uso de precauções universais (luvas, óculos de proteção, máscaras, aventais, etc.), bem como a freqüência de utilização de procedimentos invasivos, podem também influir no risco de transmissão do HIV.
O meio mais eficiente para reduzir tanto a transmissão profissional-paciente quanto a paciente-profissional, baseia-se na utilização sistemática das normas de biossegurança, na determinação dos fatores de risco associados, e na sua eliminação, bem como na implantação de novas tecnologias da instrumentação usadas na rotina de procedimentos invasivos.
TESTES DIAGNÓSTICOS
Os testes para detecção da infecção pelo HIV podem ser divididos basicamente em quatro grupos:
· detecção de anticorpos;
· detecção de antígenos;
· cultura viral;
· amplificação do genoma do vírus.
As técnicas rotineiramente utilizadas para o diagnóstico da infecção pelo HIV são baseadas na detecção de anticorpos contra o vírus. Estas técnicas apresentam excelentes resultados e são menos dispendiosas, sendo de escolha para toda e qualquer triagem inicial. Porém detectam a resposta do hospedeiro contra o vírus, e não o próprio vírus diretamente. As outras três técnicas detectam diretamente o vírus ou suas partículas. São menos utilizadas rotineiramente, sendo aplicadas em situações específicas, tais como: exames sorológicos indeterminados ou duvidosos, acompanhamento laboratorial de pacientes, mensuração da carga viral para controle de tratamento, etc. A seguir, cada técnica será explicada separadamente.
Testes de detecção de anticorpos
ELISA (teste imunoenzimático): este teste utiliza antígenos virais (proteínas) produzidos em cultura celular (testes de primeira geração) ou através de tecnologia molecular recombinante. Os antígenos virais são adsorvidos por cavidades existentes em placas de plástico e, a seguir, adiciona-se o soro do paciente. Se o soro possuir anticorpos específicos, estes serão fixados sobre os antígenos. Tal fenômeno pode ser verificado com a adição de uma antiimunoglobulina humana conjugada a uma enzima como, por exemplo, a peroxidase. Em caso positivo ocorre uma reação corada ao se adicionar o substrato específico da enzima. Esta técnica é amplamente utilizada como teste inicial para detecção de anticorpos contra o vírus, devido à sua facilidade de automação e custo relativamente baixo. Apresenta atualmente altas sensibilidade e especificidade.
Western-blot: este ensaio envolve inicialmente a separação das proteínas virais por eletroforese em gel de poliacrilamida, seguida da transferência eletroforética dos antígenos para uma membrana de nitrocelulose. Em um terceiro momento, a membrana é bloqueada com proteínas que são adsorvidas por sítios não ocupados pelos antígenos. Posteriormente a membrana é colocada em contato com o soro que se deseja pesquisar. As reações antígeno-anticorpo são detectadas por meio da reação com antiimunoglobulina humana, conjugada com um radioisótopo ou uma enzima. A revelação é feita por auto-radiografia ou por substrato cromogênico. Geralmente este teste é utilizado para confirmação do resultado reagente ao teste ELISA (ou seja, teste confirmatório da infecção), devido à sua alta complexidade e custo. Tem alta especificidade e sensibilidade.
Imunofluorescência indireta: fixadas em lâminas de microscópio, as células infectadas (portadoras de antígenos) são incubadas com o soro que se deseja testar. Depois, são tratadas com outro soro que contenha anticorpos específicos para imunoglobulina humana (anti-lg) conjugados a um fluorocromo. A presença dos anticorpos é revelada por meio de microscopia de fluorescência. Também é utilizada como teste confirmatório.
Radioimunoprecipitação: a detecção dos anticorpos decorre de reações com antígenos radioativos. Estes antígenos são obtidos de células infectadas, mantidas na presença de radioisótopos durante a síntese de proteínas virais. Precipitados formados da reação desses antígenos com anticorpos específicos são sedimentados, dissociados com detergente, e depois, analisados por eletroforese em gel de poliacrilamida. Segue-se a auto-radiografia. É uma técnica menos conhecida, mas que pode ser utilizada para confirmação de diagnóstico. Outros testes para detecção de anticorpos: um grande número de testes rápidos para estudos de campo, triagens de grandes populações e para decisões terapêuticas em situações de emergência vêm sendo desenvolvidos, geralmente baseados em técnicas de aglutinação em látex e hemaglutinação.
Testes de detecção de antígeno VIRAL
Pesquisa de Antígeno p24: este teste quantifica a concentração da proteína viral p24 presente no plasma ou no sobrenadante de cultura de tecido. Embora esta proteína esteja presente no plasma de pacientes em todos os estágios da infecção pelo HIV, sua maior prevalência ocorre antes da soroconversão e nas fases mais avançadas da doença; o teste é realizado mediante a utilização da técnica de ELISA (imunoenzimático).
Técnicas de cultura viral
Cultura de células mononucleares de sangue periférico para isolamento do HIV: esta técnica foi inicialmente utilizada para caracterizar o HIV como agente causador da aids. As culturas são observadas quanto à evidência de formação sincicial (células gigantes multinucleadas), presença de atividade da transcriptase reversa e produção de antígeno p24 em sobrenadantes. São consideradas positivas quando dois testes consecutivos detectam a presença dos achados acima descritos em valores superiores ao limite de corte (cut-off).
Cultura quantitativa de células: é uma técnica que mede a carga viral intracelular, mediante a diluição seriada decrescente de uma população de 106 células do paciente infectado. Considera-se como positiva a menor diluição capaz de isolar alguma célula infectada.
Cultura quantitativa de plasma: técnica semelhante à anterior, porém utilizando alíquotas decrescentes de plasma. Considera-se como positiva a menor diluição capaz de infectar células mononucleares.
Testes de amplificação do genoma do vírus
Análise quantitativa direta da carga viral através de técnicas baseadas na amplificação de ácidos nucleicos, tais como a reação de polimerase em cadeia (PCR) quantitativa, amplificação de DNA em cadeia ramificada (branched-chain DNA ou bDNA) e amplificação seqüencial de ácidos nucleicos (nucleic acid sequence-based amplification ou NASBA). Embora as técnicas sejam diferentes, o PCR quantitativo e o NASBA apresentam alta sensibilidade, permitindo o acompanhamento da resposta terapêutica antiretroviral. Além disso, valores elevados de partículas virais detectados ao PCR quantitativo ou NASBA parecem estar relacionados com um maior risco de progressão da doença, independente da contagem de células TCD4+. Sugere-se sua monitorização a cada 3-4 meses. Em caso de início ou mudança de terapia antiretroviral, alguns autores recomendam uma dosagem da carga viral com 1 a 2 meses de tratamento, para avaliação da resposta ao esquema. Os resultados devem ser interpretados da seguinte maneira:
Carga viral abaixo de 10.000 cópias de RNA por ml: baixo risco de progressão ou de piora da doença.
Carga viral entre 10.000 e 100.000 cópias de RNA por ml: risco moderado de progressão ou de piora da doença.
Carga viral acima de 100.000 cópias de RNA por ml: alto risco de progressão ou de piora da doença.
Contagem de células CD4+ em sangue periférico
A contagem de células T CD4+ em sangue periférico tem implicações prognósticas na evolução da infecção pelo HIV pois é a medida de imunocompetência celular; é mais útil no acompanhamento de pacientes infectados pelo HIV. De maneira didática pode-se dividir a contagem de células T CD4+ em sangue periférico em quatro faixas:
maior que 500 células/mm3: estágio da infecção pelo HIV com baixo risco de doença. Há boa resposta às imunizações de rotina e boa confiabilidade nos testes cutâneos de hipersensibilidade tardia, como o PPD. Casos de infecção aguda podem apresentar estes níveis de células T CD4+, embora, de modo geral, esses pacientes tenham níveis mais baixos.
entre 200 e 500 células/mm3: estágio caracterizado por surgimento de sinais e sintomas menores ou alterações constitucionais. Risco moderado de desenvolvimento de doenças oportunistas. Nesta fase, podem aparecer candidíase oral, herpes simples recorrente, herpes zoster, tuberculose, leucoplasia pilosa, pneumonia bacteriana.
entre 50 e 200 células/mm3: estágio com alta probabilidade de surgimento de doenças oportunistas como pneumocistose, toxoplasmose de SNC, neurocriptococose, histoplasmose, citomegalovirose localizada. Está associado à síndrome consumptiva, leucoencefalopatia multifocal progressiva, candidíase esofagiana, etc.
menor que 50 células/mm3: estágio com grave comprometimento de resposta imunitária. Alto risco de surgimento de doenças oportunistas como citomegalovirose disseminada, sarcoma de Kaposi, linfoma não-Hodgkin e infecção por micobactérias atípicas. Alto risco de vida com baixa sobrevida. Observações Estes valores levam em conta apenas a avaliação quantitativa. Alterações qualitativas na função dos linfócitos podem permitir o surgimento de condições oportunistas em pacientes com níveis diferentes de células T CD4+. Em crianças, a contagem de células T CD4+ tem níveis diferentes de interpretação. Quando não há disponibilidade de quantificação da carga viral, pode-se basear na contagem de células T CD4+ para iniciar ou alterar terapêutica anti-retroviral.
Soroconversão: é a positivação da sorologia para o HIV. A soroconversão é acompanhada de uma queda expressiva na quantidade de vírus no plasma (carga viral), seguida pela recuperação parcial dos linfócitos T CD4+ no sangue periférico. Esta recuperação é devida tanto à resposta imune celular quanto à humoral. Nesta fase observa-se o seqüestro das partículas virais e das células infectadas (linfócitos T-CD4+) pelos órgãos linfóides responsáveis por nossa imunidade, particularmente os linfonodos.
Janela imunológica: é o tempo compreendido entre a aquisição da infecção e a soroconversão (também chamada de janela biológica). O tempo decorrido para a sorologia anti-HIV tornar-se positiva é de seis a 12 semanas após a aquisição do vírus, com o período médio de aproximadamente 2,1 meses. Os testes utilizados apresentam geralmente níveis de até 95% de soroconversão nos primeiros 5,8 meses após a transmissão.
ASPECTOS CLÍNICOS
A infecção pelo HIV pode ser dividida em quatro fases clínicas:
1) infecção aguda;
2) fase assintomática, também conhecida como latência clínica;
3) fase sintomática inicial ou precoce;
4) aids.
Infecção aguda
A infecção aguda, também chamada de síndrome da infecção retroviral aguda ou infecção primária, ocorre em cerca de 50% a 90% dos pacientes. Seu diagnóstico é pouco realizado devido ao baixo índice de suspeição, sendo, em sua maioria, retrospectivo. O tempo entre a exposição e os sintomas é de cinco a 30 dias. A história natural da infecção aguda caracteriza-se tanto por viremia elevada, como por resposta imune intensa. Durante o pico de viremia, ocorre diminuição rápida dos linfócitos T CD4+, que posteriormente aumentam, mas geralmente não retornam aos níveis prévios à infecção. Observa-se, também, aumento do número absoluto de linfócitos T CD8+ circulantes, com a inversão da relação CD4+/CD8+, que se torna menor que um. Este aumento de células T CD8+, provavelmente, reflete uma resposta T citotóxica potente, que é detectada antes do aparecimento de anticorpos neutralizantes. Existem evidências de que a imunidade celular desempenha papel fundamental no controle da viremia na infecção primária.
Os sintomas aparecem durante o pico da viremia e da atividade imunológica. As manifestações clínicas podem variar, desde quadro gripal até uma síndrome mononucleose-like. Além de sintomas de infecção viral, como febre, adenopatia, faringite, mialgia, artralgia, rash cutâneo maculopapular eritematoso, ulcerações muco-cutâneas envolvendo mucosa oral, esôfago e genitália, hiporexia, adinamia, cefaléia, fotofobia, hepatoesplenomegalia, perda de peso, náuseas e vômitos; os pacientes podem apresentar candidíase oral, neuropatia periférica, meningoencefalite asséptica e síndrome de Guillain-Barré. Os achados laboratoriais inespecíficos são transitórios, e incluem: linfopenia seguida de linfocitose, presença de linfócitos atípicos, plaquetopenia e elevação sérica das enzimas hepáticas. Os sintomas duram, em média, 14 dias, sendo o quadro clínico autolimitado. A ocorrência da síndrome de infecção retroviral aguda clinicamente importante ou a persistência dos sintomas por mais de 14 dias parecem estar relacionadas com a evolução mais rápida para aids. O quadro abaixo mostra os sinais e sintomas freqüentemente associados à sindrome viral aguda causada pelo HIV.

Principais sinais e sintomas associados a infecção aguda pelo HIV

Sinais e Sintomas
Freqüência (%)
Febre
80-90
Fadiga
70-90
Exantema
40-80
Cefaléia
32-70
Linfadenopatia
40-70
Faringite
50-70
Mialgia e/ou Artalgia
50-70
Nausea, Vômito e/ou Diarréia
30-60
Suores Noturnos
50
Meningite Asséptica
24
Úlceras Orais
10-20
Úlceras Genitais
5-15
Trombocitopenia
45
Linfopenia
40
Elevação dos níveis séricos de enzimas hepáticas
21

Adaptado de Kahn et al, 1998
Após a resolução da fase aguda, ocorre a estabilização da viremia em níveis variáveis (set points), definidos pela velocidade da replicação e clareamento viral. O set point é fator prognóstico de evolução da doença. A queda da contagem de linfócitos T CD4+, de 30 a 90 células por ano, está diretamente relacionada à velocidade da replicação viral e progressão para a aids.
Fase assintomática
Na infecção precoce pelo HIV, também conhecida como fase assintomática, o estado clínico básico é mínimo ou inexistente. Alguns pacientes podem apresentar uma linfoadenopatia generalizada persistente, "flutuante" e indolor. Portanto, a abordagem clínica nestes indivíduos no início de seu seguimento prende-se a uma história clínica prévia, investigando condições de base como hipertensão arterial sistêmica, diabetes, DPOC, doenças hepáticas, renais, pulmonares, intestinais, doenças sexualmente transmissíveis, tuberculose e outras doenças endêmicas, doenças psiquiátricas, uso prévio ou atual de medicamentos, enfim, situações que podem complicar ou serem agravantes em alguma fase de desenvolvimento da doença pelo HIV. A história familiar, hábitos de vida, como também uma avaliação do perfil emocional e psicossocial do paciente, seu nível de entendimento e orientação sobre a doença são extremamente importantes. No que diz respeito à avaliação laboratorial nesta fase, uma ampla variedade de alterações podem estar presentes. Os exames laboratoriais de rotina recomendados são:
Hemograma completo: para avaliação de anemia, leucopenia, linfopenia e plaquetopenia.
Níveis bioquímicos: para uma visão das condições clínicas gerais, em particular para conhecimento dos níveis bioquímicos iniciais dos pacientes, principalmente funções hepática e renal, desidrogenase lática, amilase.
Sorologia para sífilis: em função do aumento da incidência de co-infecção, visto que a infecção pelo HIV pode acelerar a história natural da sífilis. Recomenda-se o VDRL e se positivo o exame confirmatório FTA-ABS. Pacientes HIV+ com evidências sorológicas de sífilis não tratada devem ser submetidos a punção lombar e avaliação para neurolues.
Sorologia para os vírus da hepatite: devido a alta incidência de co-infecção com hepatites B e C nos grupos de homossexuais, bissexuais, heterossexuais com múltiplos parceiros e usuários de drogas injetáveis. O screening recomendado para hepatite B é antígeno de superfície (HBS Ag) e o anticorpo anticore do vírus B (anti-HBc); para a hepatite C: anticorpo contra o vírus da hepatite C (Anti-HCV).
Sorologia para toxoplasmose (lgG): em decorrência da maioria dos pacientes apresentar exposição prévia ao Toxoplasma gondii, sendo indicada a profilaxia em momento oportuno, conforme faixa de células T CD4+ do paciente.
Os métodos preferenciais são: hemoaglutinação, imunofluorescência ou ELISA.
Sorologia para citomegalovírus (CMV) e herpes: embora questionada, indica-se para detecção de infecção latente. Pacientes com sorologia negativa para citomegalovírus devem evitar exposição a hemoderivados de doadores com sorologia positiva, em caso de necessidade de transfusões sangüíneas.
Radiografia de tórax: recomenda-se na avaliação inicial como parâmetro basal para possíveis alterações evolutivas no futuro ou em pacientes com história de doença pulmonar freqüente. PPD (derivado protéico purificado): teste recomendado de rotina anual para avaliação da necessidade de quimioprofilaxia para tuberculose. Em paciente com infecção pelo HIV, considera-se uma enduração > 5mm como uma reação forte e indicativa da necessidade de quimioprofilaxia.
Papanicolaou: recomendado na avaliação ginecológica inicial, seis meses após e, se resultados normais, uma vez a cada ano. Sua indicação é de fundamental importância, devido a alta incidência de displasia cervical e rápida progressão para o câncer cervical em jovens HIV positivas.
Perfil imunológico e carga viral: é, sem dúvida, um dos procedimentos mais importantes na avaliação do paciente com infecção precoce pelo HIV, pois é a partir dela, através da interpretação dos vários testes atualmente disponíveis, que se pode ter parâmetros do real estadiamento da infecção, prognóstico, decisão quanto ao início da terapia anti-retroviral e avaliação da resposta ao tratamento, bem como o uso de profilaxia para as infecções oportunistas mais comuns na ocasião propícia. Recomenda-se a realização periódica de sub-tipagem de células T CD4+ e avaliação quantitativa da carga viral para HIV a cada 3-4 meses.
Fase sintomática inicial
Sudorese noturna: é queixa bastante comum e tipicamente inespecífica entre os pacientes com infecção sintomática inicial pelo HIV. Pode ser recorrente e pode ou não vir acompanhada de febre. Nessa situação deve ser considerada a possibilidade de infecção oportunista, particularmente tuberculoses, lançando-se mão de investigação clínica e laboratorial específicas.
Fadiga: também é freqüente manifestação da infecção sintomática inicial pelo HIV e pode ser referida como mais intensa no final de tarde e após atividade física excessiva. Fadiga progressiva e debilitante deve alertar para a presença de infecção oportunista, devendo ser sempre pesquisada.
Emagrecimento: é um dos mais comuns entre os sintomas gerais associados com infecção pelo HIV, sendo referido em 95-100% dos pacientes com doença em progressão. Geralmente encontra-se associado a outras condições como anorexia. A associação com diarréia aquosa o faz mais intenso.
Diarréia: consiste em manifestação freqüente da infecção pelo HIV desde sua fase inicial. Determinar a causa da diarréia pode ser difícil e o exame das fezes para agentes específicos se faz necessário. Na infecção precoce pelo HIV, patógenos entéricos mais comuns devem ser suspeitados: Salmonella sp, Shigella sp, Campylobacter sp, Giardia lamblia, Entamoeba histolytica, adenovírus, rotavírus. Agentes como Cryptosporidium parvum e Isospora belli, geralmente reconhecidos em fase mais avançada da doença causada pelo HIV, podem apresentar-se como expressão clínica autolimitada, principalmente com a elevação da contagem de células T CD4+ obtida com o iníco do tratamento anti-retroviral. Quando a identificação torna-se difícil ou falha, provas terapêuticas empíricas podem ser lançadas, baseando-se nas características epidemiológicas e clínicas do quadro.
Sinusopatias: sinusites e outras sinusopatias ocorrem com relativa freqüência entre os pacientes com infecção pelo HIV. A forma aguda é mais comum no estágio inicial da doença pelo HIV, incluindo os mesmos agentes considerados em pacientes imunocompetentes: Streptococus pneumoniae, Moraxella catarrhalis e H. influenzae. Outros agentes como S. aureus e P. aeruginosa e fungos têm sido achados em sinusite aguda, porém seu comprometimento em sinusites crônicas é maior. Febre, cefaléia, sintomas locais, drenagem mucopurulenta nasal fazem parte do quadro.
Candidíase Oral e Vaginal (inclusive a recorrente): a candidíase oral é a mais comum infecção fúngica em pacientes portadores do HIV e apresenta-se com sintomas e aparência macroscópica característicos. A forma pseudomembranosa consiste em placas esbranquiçadas removíveis em língua e mucosas que podem ser pequenas ou amplas e disseminadas. Já a forma eritematosa é vista como placas avermelhadas em mucosa, palato mole e duro ou superfície dorsal da língua. A queilite angular, também freqüente, produz eritema e fissuras nos ângulos da boca. Mulheres HIV+ podem apresentar formas extensas ou recorrentes de candidíase vulvo-vaginal, com ou sem acometimento oral, como manifestação precoce de imunodeficiência pelo HIV, bem como nas fases mais avançadas da doença. As espécies patogênicas incluem Candida albicans, C. tropicalis, C. parapsilosis e outras menos comumente isoladas.
Leucoplasia Pilosa Oral: é um espessamento epitelial benigno causado provavelmente pelo vírus Epstein-Barr, que clinicamente apresenta-se como lesões brancas que variam em tamanho e aparência, podendo ser planas ou em forma de pregas, vilosidades ou projeções. Ocorre mais freqüentemente em margens laterais da língua, mas podem ocupar localizações da mucosa oral: mucosa bucal, palato mole e duro.
Gengivite: a gengivite e outras doenças periodontais pode manifestar-se de forma leve ou agressiva em pacientes com infecção pelo HIV, sendo a evolução rapidamente progressiva, observada em estágios mais avançados da doença, levando a um processo necrotizante acompanhado de dor, perda de tecidos moles periodontais, exposição e seqüestro ósseo.
Úlceras Aftosas: em indivíduos infectados pelo HIV é comum a presença de úlceras consideravelmente extensas, resultantes da coalescência de pequenas úlceras em cavidade oral e faringe, de caráter recorrente e etiologia não definida. Resultam em grande incômodo produzindo odinofagia, anorexia e debilitação do estado geral com sintomas constitucionais acompanhando o quadro.
Herpes Simples Recorrente: a maioria dos indivíduos infectados pelo HIV é co-infectada com um ou ambos os tipos de vírus herpes simples (1 e 2), sendo mais comum a evidência de recorrência do que infecção primária. Embora o HSV-1 seja responsável por lesões orolabiais e o HSV-2 por lesões genitais, os dois tipos podem causar infecção em qualquer sítio. Geralmente a apresentação clínica dos quadros de recorrência é atípica ao comparar-se aos quadros em indivíduos imunocompetentes, no entanto, a sintomatologia clássica pode manifestar-se independente do estágio da doença pelo HIV.
Herpes Zoster: de modo similar ao que ocorre com o HSV em pacientes com doença pelo HIV, a maioria dos adultos foi previamente infectada pelo vírus varicela zoster, desenvolvendo episódios de herpes zoster freqüentes. O quadro inicia com dor radicular, rash localizado ou segmentar comprometendo um a três dermátomos, seguindo o surgimento de maculopapulas dolorosas que evoluem para vesículas com conteúdo infectante. Pode também apresentar-se com disseminação cutânea extensa.
Trombocitopenia: na maioria das vezes é uma anormalidade hematológica isolada com um número normal ou aumentado de megacariócitos na medula óssea e níveis elevados de imunoglobulinas associadas a plaquetas, síndrome clínica chamada púrpura trombocitopênica imune. Clinicamente, os pacientes podem apresentar somente sangramentos mínimos como petéquias, equimoses e ocasionalmente epistaxes. Laboratorialmente considera-se o número de plaquetas menor que 100.000 células/mm3.
Doenças oportunistas
São doenças que se desenvolvem em decorrência de uma alteração imunitária do hospedeiro. Estas são geralmente de origem infecciosa, porém várias neoplasias também podem ser consideradas oportunistas.
As infecções oportunistas (IO) podem ser causadas por microrganismos não considerados usualmente patogênicos, ou seja, não capazes de desencadear doença em pessoas com sistema imune normal. Entretanto, microrganismos normalmente patogênicos também podem, eventualmente, ser causadores de IO. Porém, nesta situação, as infecções necessariamente assumem um caráter de maior gravidade ou agressividade para serem consideradas oportunistas.
As doenças oportunistas associadas à aids são várias, podendo ser causadas por vírus, bactérias, protozoários, fungos e certas neoplasias:
· Vírus: Citomegalovirose, Herpes simples, Leucoencafalopatia Multifocal Progressiva.
· Bactérias: Micobacterioses (tuberculose e complexo Mycobacterium avium-intracellulare), Pneumonias (S. pneumoniae), Salmonelose.
· Fungos: Pneumocistose, Candidíase, Criptococose, Histoplasmose.
· Protozoários: Toxoplasmose, Criptosporidiose, Isosporíase.
· Neoplasias: sarcoma de Kaposi, linfomas não-Hodgkin, neoplasias intra-epiteliais anal e cervical.
TRATAMENTO
Existem, até o momento, duas classes de drogas liberadas para o tratamento anti-HIV:
Inibidores da transcriptase reversa: São drogas que inibem a replicação do HIV bloqueando a ação da enzima transcriptase reversa que age convertendo o RNA viral em DNA:
Nucleosídeos:
· Zidovudina (AZT) cápsula 100 mg, dose:100mg 5x/dia ou 200mg 3x/dia ou 300mg 2x/dia;
· Zidovudina (AZT) injetável, frasco-ampola de 200 mg;
· Zidovudina (AZT) solução oral, frasco de 2.000 mg/200 ml;
· Didanosina (ddI) comprimido 25 e 100mg, dose: 125 a 200mg 2x/dia;
· Zalcitabina (ddC) comprimido 0,75mg, dose: 0,75mg 3x/dia;
· Lamivudina (3TC) comprimido 150mg, dose: 150mg 2x/dia;
· Estavudina (d4T) cápsula 30 e 40mg, dose: 30 ou 40mg 2x/dia;
· Abacavir comprimidos 300 mg, dose: 300 mg 2x/dia.
Não-nucleosídeos:
· Nevirapina comprimido 200 mg, dose: 200 mg 2x/dia;
· Delavirdina comprimido 100 mg, dose: 400 mg 3x/dia;
· Efavirenz comprimido 200 mg, dose: 600 mg 1x/dia.
Nucleotídeo: Adefovir dipivoxil: comprimido, 60 e 120 mg, dose: 60 ou 120 mg 1x/dia.
Inibidores da protease: Estas drogas agem no último estágio da formação do HIV, impedindo a ação da enzima protease que é fundamental para a clivagem das cadeias protéicas produzidas pela célula infectada em proteínas virais estruturais e enzimas que formarão cada partícula do HIV:
· Indinavir cápsula 400 mg, dose: 800 mg 3x/dia;
· Ritonavir cápsula 100mg, dose: 600mg 2x/dia;
· Saquinavir cápsula 200mg, dose: 600mg 3x/dia;
· Nelfinavir cápsula de 250 mg, dose 750 mg 3x/dia;
· Amprenavir cápsula de 150 mg, dose 600 mg 2x/dia.
Terapia combinada: é o tratamento anti-retroviral com associação de duas ou mais drogas da mesma classe farmacológica (p ex. dois análogos nucleosídeos), ou de classes diferentes (p ex. dois análogos nucleosídeos e um inibidor de protease). Estudos multicêntricos demonstraram aumento na atividade anti-retroviral (elevação de linfócitos T-CD4+ e redução nos títulos plasmáticos de RNA-HIV) quando da associação de drogas, particularmente redução da replicação viral por potencializar efeito terapêutico ou por sinergismo de ação em sítios diferentes do ciclo de replicação viral. Outros estudos evidenciaram redução na emergência de cepas multirresistentes quando da utilização da terapêutica combinada.
Terapia anti-retroviral: é uma área complexa, sujeita a constantes mudanças. As recomendações deverão ser revistas periodicamente, com o objetivo de incorporar novos conhecimentos gerados pelos ensaios clínicos.


Príons

O neurologista norte-americano Stanley Prusiner, professor da Universidade da Califórnia, em São Francisco; descobriu uma proteína causadora da demência bovina e de outras doenças degenerativas do cérebro, ganhou o Prêmio Nobel de Medicina. O neurologista iniciou o trabalho em 1972, depois que um de seus pacientes morreu de demência resultante da doença de Creutzfeldt-Jakob. Dez anos depois, ele e sua equipe produziram um preparado derivado do cérebro de cobaias doentes que continha um só agente chamado prion. Prusiner demonstrou grande humildade ao admitir que em 1980 a noção dos prions só poderia ser considerada como herética pelo mundo científico: naquela época, disse, era dogma que os agentes de doenças transmissíveis deveriam ser integrados de material genético, de DNA ou RNA, de modo a estabelecer uma infecção na célula anfitriã. Afinal, até mesmo os vírus, dentre os micróbios mais simples, dependem de tal material para a síntese direta de proteínas, necessárias para a sobrevivência e a reprodução. Não somente nesse aspecto a descoberta de Prusiner chocava-se com o conhecimento da época. Havia o fato também de que ele apontara as proteínas provocadoras da doença como geradas espontaneamente no organismo, mas também transmissíveis. Essa ação dupla era então desconhecida na ciência médica. E mais ainda, concluiu que os prions se multiplicavam em velocidade extraordinária, pelo simples contato da molécula contaminada com a sã (SEZAR, 1997). Os prions, em última análise, são moléculas de proteínas normais (PrPc) produzidas nas células dos mamíferos, através de controle dos genes. Quando a molécula adquire uma configuração diferente (PrPSc), ela se torna patogênica. Essa configuração pode ocorrer devido à existência de um gene mutante no indivíduo, que eventualmente desenvolve a doença, neste caso hereditária. Extratos de cérebro de animais doentes, contendo PrPSc, injetados em animais sãos, causam a doença; acredita-se que os PrPSc induzem os prions normais a mudarem de configuração molecular, num efeito cascata, possibilitando o estabelecimento da doença (SEZAR, 1996). A visualização por microscopia eletrônica do agente infeccioso do scrapie tem demonstrado a presença de bastonetes de 10-20mm de diâmetros e 100-200 mm de comprimento, estudos imunoeletromicroscopia, usando anticorpos anti-PrP, demonstram os bastonetes constituídos de PrP (TRABULSI, 1999). No início, acreditava-se que as doenças fossem causadas por vírus de ação muito lenta. No entanto, a radiação ultravioleta, que destrói ácidos nucléicos, não inativava os extratos, que continuavam infecciosos. Isso sugeria uma coisa muito estranha: se o agente da infecção não continha ácido nucléico, não poderia ser um vírus. Prusiner e seus colaboradores descobriram que, ao contrário, as proteínas presentes no extrato eram responsáveis pela infecção; isso porque, ao usarem métodos de desnaturação, que modificam a conformação das proteínas, a capacidade infecciosa do extrato diminuía muito. A proteína do "scrapie" foi chamada de PrP, que vem de "Prion Protein". Os prions são codificados por genes, os pesquisadores conseguiram descobrir, em células de mamíferos, o gene que codifica a PrP. Ficou assim estabelecido que este gene não é carregado pelo prion, mas reside nos cromossomos dos camundongos, das cobaias e dos seres humanos estudados. Em outras palavras, nossas células fabricam normalmente a proteína que chamamos de prion, sem que, no entanto, adoeçamos. Verificou-se, na realidade, que a proteína existe sob duas formas, uma patogênica e a outra não. À forma normal, não causadora de doença, chamou-se PrPc (PrP celular); a forma patogênica foi chamada de PrPSc (PrP Scrapie). Descobriu-se que, em algumas pessoas, o gene produtor de prions sofreu mutação; nessas pessoas, as encefalopatias espongiformes desenvolvem-se com maior facilidade. A doença, neste caso, comporta-se como hereditária, e não como uma infecção adquirida (SEZAR, 1996). As duas proteínas se diferem somente em conformatação. PrPc é composto por 40% de alfa hélix enquanto a outra que é PrPsc é formada por 60% de uma base beta e 20% da estrutura alfa hélix. O mecanismo de infecção é iniciado por uma interação do PrPsc com a proteína Prion celular, causando uma conversão para a posterior conformatação. A partir daí a infecção se espalha porque as novas moléculas PrPsc são geradas exponencialmente de uma única molécula normal PrPc. O acumulo de PrPsc insolúvel é um dos fato que leva a morte neuronal. Existe uma discussão na literatura que a internação da PrPc é mediada por duas substâncias diferentes, entretanto os dois caminhos necessitam de uma terceira proteína, um receptor ou uma proteína ligada ao Prion para fazer a molécula ancorada no GPI ou converter o PrPc em PrPsc (AURIEMO,1996). O fenômeno de conversão dos prions não é ainda bem claro, uma vez que viola a teoria biológica segundo a qual é necessário um ácido nucléico que funcione como modelo para a conversão. A "hipótese do dímero" considera que uma molécula inicial anormal (PrP-SC) se combina com uma molécula normal (PrP-C) para formar um heterodímero. Este é depois convertido num homodímero (PrP-SC/PrP-SC) que se pode dissociar e regenerar o "agente patogênico". Ocorre assim um crescimento exponencial do confôrmero anormal o PrP-SC (PRUSINER, 1996). Crê-se que alguns indivíduos (humanos ou animais) herdam geneticamente proteínas com uma tendência aumentada para "espontaneamente" produzirem a pequena quantidade de proteínas de configuração anormal que inicie o processo de replicação. Noutros casos, indivíduos expostos a tais proteínas, por exemplo através da ingestão de alimentos, desenvolvem a doença bem como o potencial para uma posterior infecção. Não se sabe ao certo como o PrP "scrapie" danifica as células causando a doença. É muito possível que isso tenha a ver com os lisossomos celulares. Em culturas de neurônios, verificou-se que os PrPSc acumulam-se no interior dos lisossomos, não sendo hidrolisados normalmente pelas proteases. Possivelmente, quando nos tecidos do cérebro, os lisossomos acabam por arrebentar e matam as células; os prions liberados atacariam outras células vizinhas, repetindo-se assim o ciclo. Formariam-se "buracos" no cérebro, que ficaria com aspecto esponjoso, donde o termo encefalopatia espongiforme (SEZAR, 1996). Doenças neurodegenerativas que afetam o homem e os animais tinham características similares ao "scrapie". O kuru, que atingia nativos de Papua-Nova Guiné, foi relatado em 1957. A estranha doença causava perda de coordenação motora seguida de demência e morte. Acredita-se que os nativos adquiriram a doença devido ao hábito de canibalismo, caracterizando uma doença infecciosa, sendo o agente etiológico provavelmente transferido do cérebro (órgão preferencialmente ingerido) de indivíduos doentes para indivíduos sadios. A doença foi exterminada pela interrupção da prática canibal. A doença de Creutzfeldt-Jackob (CJD), bastante rara (um afetado em um milhão de indivíduos), tem distribuição mundial, sendo também caracterizada por demência seguida de perda de coordenação motora. A doença de Gerstmann-Sträussler-Scheinker (GSS), que à semelhança da CJD leva ao aparecimento de alterações de coordenação motora e à Insônia Familiar Fatal (FFI), onde a demência é seguida de alterações no sono. O componente hereditário destas últimas é muito maior que o infeccioso, sendo responsável por mais de 90% dos casos. Em 1986, a emersão de uma epidemia que acometeu o gado bovino da Grã-Bretanha foi relatada. Seu aparecimento foi associado ao uso de vísceras de ovelhas contaminadas com o "scrapie" no preparo da ração usada para alimentar estes animais. A doença, denominada encefalopatia espongiforme bovina (nome dado devido à grande quantidade de buracos presentes no cérebro destes animais) ou "doença da vaca louca", atingiu seu ápice em 1994 com 138.359 casos naquele país (MARTINS, 1999)


Fonte: www.biomania.com.br